quarta-feira, janeiro 31, 2007

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domingo, janeiro 28, 2007

no momento em que nos olham fixamente para ouvir, com aquele esgar de atenção que qualquer um faz ao ler um livro, as pessoas de quem ainda não aprendemos a gostar tornam-se belas. o gesto da descodificação faz sempre diferença.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

título: o cachecol – como aquele do Principezinho
diagnóstico: incontinência labial


não me lembro de prezar tanto o meu cachecol como neste inverno, mas a questão não é em nada meteorológica: é espiritual. não creio que a tendência cesse com o advento da primavera. tornou-se habitual desatar a rir quando caminho sozinho, a céu aberto, em plena avenida, com o feixe dos lampiões públicos a servir de foco. os porquês cá os sei. são meus e não me agrada ter de os explicar a alguém. já aconteceu que me acontecesse acompanhado e mais ninguém se riu, nem a raposa. é difícil a cumplicidade profunda do riso. no dia em que tiver uma sintonia destas com alguém, vou ao notário e mudo de nome. até lá, enrolo o cachecol à volta dos lábios e rio-me até aos abdominais. mais ninguém vê. nem a raposa.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

ou ela ou nós, ou ela ou nós...

o livro de jonas e hemingway, em flashback. o próprio melville e outras linhas bíblicas por ler - era forte o hipertexto sobre as narrativas da desobediência -; a rueff sem bigode e sem táxi; o miguel guilherme a mudar o leme do impacto; a dificuldade de vasar em palco uma obra desta natureza, que pede livro: digressão reflexiva e mestria descritiva para a inclemência do mar. salve-me o pinguim do desastre de ainda não ter apanhado a baleia em páginas brancas...

domingo, janeiro 21, 2007

Maria Gabriela Llansol


partiu-se o pote de barro esférico__________ para flores, aspidistras, sobretudo, com relevo de ramo e pássaro. Era belo. Mas, quando olhou para o lugar vazio que deixara, principalmente a auréola de sujo que corroera o verniz do sobrado, a mulher reparou que os seus cacos formavam no chão um pregueamento de extrema beleza. A própria terra do vaso não destoava, nem as aspidistras pareciam sofrer com o sucedido. Em vez da irritação que deveria ter sentido, e a teria obsessivamente levado a repor imediatamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido obsessivamente levado a repor rapidamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido liberta de «um» belo inferior que, até àquele momento, considerara como perfeito. Para essa certeza, muito contribuíra certamente a simetria que o vaso formava com outro, de forma exactamente igual, no vão da janela.

Não pedira nem solicitar a ninguém a troca. Não havia imaginado beleza mais perfeita, apesar do vazio sujo deixados sobre o sobrado.

in Parasceve

há menos de um mês que o mesmo me aconteceu com um copo de vidro. cheguei a casa, à noite, ao fim de um dia de assobios e danças do vento, e vi os gomos de vidro fragmentados na banca, logo ao lado da janela aberta. e a moral a dizer: eu avisei... se tivesses lavado a loiça, o copo estaria amparado no escorredor e não partia. NADA disso. A moral não teve tempo. fiquei uns minutos a contemplar a beleza do estilhaço, como a voz acima transcrita. cheguei a tirar fotografias, mas ainda faltam uns dias para o rolo as dar à luz, porque o gatilho fotográfico tem disparado pouco. se tiverem ficado bem, ainda fixo uma por aqui. foi a custo que limpei a banca, não pela preguiça, mas pelo anular da construção. talvez me tivesse custado mais do que arrumar a cozinha depois de uma noitada entre amigos. guardei algumas partículas do copo, estilhaçadas dentro de si mesmas, numa espiral de subdivisão vítrea. uns minutos depois, ainda me consegui cortar num pé; o golpe não foi profundo, mas brindou-me com um inchaço entre o dedo médio e o anelar – isto usa-se para pés? – do pé esquerdo. o sucedido ficou-me incrustado na mente e há dias, inesperadamente, deparei-me com este fragmento que me renovou a vontade de ler este livro, há uns anos iniciado, mas encalhado na estante, com a lombada vitoriosa e sobranceira, insinuando o peso da leitura sobre a fragilidade das minhas pálpebras. depois deste reencontro tão forte, quando lhe voltar a pegar, vai de uma vez.

quinta-feira, janeiro 18, 2007

o desejo esteve para se deslocar até aos estúdios da razão: tinham combinado uma entrevista, a ser emitida no programa matinal da rádio; a verdade é que, fiel ao rito invernal, teve de cumprir os protocolos febris, regido por uma dor de garganta que se prolongou e lhe trouxe ameaças de proto-enfermidade. a razão, ponderada e paciente, como sempre, espera. é possível que ainda aprimore o questionário.

sábado, janeiro 13, 2007


Ute Lemper

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sexta-feira, janeiro 12, 2007

deu
quando se derrota a fila interminável para transpor o limiar da entrada para a sala da exposição, há que enfrentar o olhar de amadeo: incisivo, quase a obrigar a desviarmos o nosso. Je travaille, a cor-de-rosa, pintado no canto inferior esquerdo da parede central, tomada de alto a baixo pelo recorte do pintor. não sei se percebi o alcance da quase epígrafe introdutória da exposição: o belo implica labor? a arte não é um cose meias desprezível, é consumação de valor? não tenho a certeza. e se calhar não é muito importante deter-me na exactidão da inscrição. a partir daqui, o percursos era livre, os visitantes transitavam entre as divisórias como queriam. o fado obrigou-me ao convívio com dois ilustres provectos, da câmara de não sei de onde. teimaram em colidir com a minha rota de observação; liam em voz alta as sílabas fragmentadas nalguns dos quadros com intersecções linguísticas: A-MOR. Já encontrou neste? tudo isto a apontar com o indicador, a escassos milímetros do quadro, acrescentando coreografias a quem apenas queria ver a pintura sem intromissões, à distância. e eu a olhar para o delimitador de distâncias, deitado no chão a uns centímetros da parede, nalguns sítios, uma espécie de pirâmide triangular a lembrar o paliteiro. lembro-me dos contornos dos motivos que incluíam animais, nunca, havia ali traços de herança que me lembravam, à toa, segundo um filtro de mera observadora, que é o meu, gaugin, por exemplo, não deixando de prevalecer ali um quid qualquer novo. pássaros, coelhos, camelos. desconhecia completamente os desenhos a tinta da china que me colaram à parede uns bons minutos por detalhes de agrado que não sei bem explicar, nem isolar. saía da abstracção da contemplação e religava as meus phones internos ao redor, rodando para outra ala da exposição. PRA-ÇA-DE-TOU-ROS. ora, ora! já encontrou esta aqui? fantástico! era duma imaginação! eles, outra vez… novidade para mim foi a diversidade de registos. não tinha noção de que a produção fosse abundante e abarcasse variedade de estilos. cristalizei memórias pictóricas do livro de história, seleccionadas, e só mais tarde amplio a percepção. é recorrente. vários quadros, em nada surpreenderam, pois o nosso olhar de século XXI já não é virgem em determinadas manobras de pincel. mas isso não importa. dentro do seu tempo, o nosso amigo acompanhou bem o desabrochar de certas linhas. e os quadros, num pormenor ou noutro, pintaram-me a tela de dentro. A-ÇU-DE…!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

segunda-feira, janeiro 08, 2007



comentário segundo são rude:

que eu saiba não é uma estante deles: é apenas schubert. não houve dissertação sobre a biografia do compositor, ou acerca do impacto da criação na época (e eu sei que tu sabes). para isto, recorria ao meu morceguinho soulseeker pirata do costume...

agora eu:

obrigada!

este fim de semana, renovei a minha mala de músicas com seis álbuns, mas desta leva não constava nenhum clássico. faltava aqui o teu quadradinho. já sei o que vou ouvir amanhã no comboio.

domingo, janeiro 07, 2007


Apetite & Apatia
or'aí está o casal do dia.
Paixões Proibidas...


a tratar de voltar a pôr termo a reestreias destas.
os caprichos pulmonares são acicatados com a viragem do ano.

sábado, janeiro 06, 2007

cegonha em contra-luz
há uma semana que o cosmos voltou a conspirar na minha linhagem. mais uma vez, enquanto consumia as últimas horas do ano, a 300 km de distância, chegou a chamada telefónica com a emersão da chegada. tia, novamente... o sabor deste estatuto, embora desejado, é de uma absoluta passividade: troco o Douro pelo Tejo durante um ano, reduzindo o número de visitas familiares a quase uma vez por mês, e, entretanto, alguém que consanguineamente me é, sempre foi, desde a minha chegada como rebento mais novo, amplia-se e, por extensão, amplia-me. passo a ser uma espécie além da fronteira da irmandade ou do ser cunhada. era nisto que pensava esta tarde, enquanto contemplava o bebé e outros - que não os pais - tentavam detectar um ângulo de si no olhar, no nariz, na boca, nas orelhas, nos dedinhos, ou até nos malares do pequenino. das conversas de bastidores, também constam as disputas que as gerações mais velhas instalam. as pouco intrusivas boas práticas da metodologia de manuseamento de um recém-nascido dão direito à demarcação de propriedade dos jovens pais e à quase mágoa de quem, por exemplo, queria ditar como deitar e não foi ouvido!
por ora, esqueço esta parte e volto ao que interessa: és bem-vindo, P.
obrigada por me seres.

terça-feira, janeiro 02, 2007

primeiros sons do anos.
uma menina não assobia,
mas aprecia.