domingo, outubro 31, 2010

fragmento de uma entrevista sem particular relevância

Admitiu que era um espírito que acabava por se furtar ao compromisso amoroso, porque temia os desvios do percurso individual. De um modo mais concreto: refere-se à tendência para a infidelidade?
Nada disso. É uma pena e uma sincera probreza que não se consigam perspectivar as respostas a não ser de acordo com essa chave de leitura. Referia-me às mutações de projectos e da própria relação do indivíduo com a realidade, em sentido muito amplo, não estritamente sexual. Há espíritos que delineiam um percurso para si desde muito cedo e que vivem na constância, sem grandes alterações, a não ser aquelas que o caminho fatalmente lhes impõe, temendo reformulações de percurso e olhando-as com desconfiança, como um sinal de desnorte ou dispersão desnecessária; quem, muito pelo contrário, não vive assim e procura antes exploração (sem que se considere aqui a intimidade) contínua da diversidade do real, de forma a que tudo complemente tudo, tende a recear o laço da conjugalidade, ou, pelo menos, de uma conjugalidade que não contemple itinerância e abertura a trajectos secundários, dentro de um mesmo caminho, unívoco e central.
E qual é esse caminho "unívoco e central"?
Penso que tem a noção de que me questiona-me sobre o meu grande propósito de vida com essa pergunta...
Não quer responder?
Ando a tentar chegar a uma resposta perante mim mesmo. Sei que tem que ver com a incondicionalidade do amor e, de alguma forma, com a imaginação, mas para conseguir torná-lo mais claro, terei de continuar o trajecto retalhado a que me referi. E com isto talvez lhe responda melhor à primeira pergunta.



amanhã é feriado

«wuhuuu»

quinta-feira, outubro 28, 2010

Louise Hay
conhecia-lhe o nome, mas nunca lhe tinha dedicado atenção. lendo informações soltas, é provável que pareçam lugares comuns ou pop-rock místico; seguindo com disponibilidade as articulações que faz, é uma viagem indescritível. há segmentos do seu discurso que há muito me acompanhavam a mente, de um modo avulso e frágil, quando pensava sobre algumas questões. o encontro de eco para alguns dos meus monólogos internos é um presente por delimitar. uma inspiração por quantificar. thank you so much, louise.

domingo, outubro 24, 2010

os declives e quedas do outono trazem boas novas.
dá-te tempo.

sábado, outubro 23, 2010

operação bancária do íntimo

fica na ribeira do porto e serve boa sangria. não importa localizar melhor. o recato que queria na altura preservo-o. sem muita seriedade, talvez até com um sorriso, mas sem ligeireza alguma. quando ainda nem sequer um 2 de segunda década havia no meu BI e procurava um espaço para conversar sem interrupções e encontros de circunstância, era lá que acabava por ir parar. eram horas de conversa debaixo da chuva de música dos 80's; esta do lloyd cole, por exemplo, era um clássico da casa.
a passagem por esse bar ou a memória dele desencadeiam uma espécie de operação bancária no meu íntimo: transferência de saudade. há a percepção de saudade da circunstância, mas não necessariamente de todos os agentes envolvidos, que a faziam, afinal. saudade de um estado emocional passado, capital da altura, que se transfere para o presente. sem rosto, sem voz, sem identidade. a memória persiste, mas depura.
há excessos que não tardam muito a gerar défices.

domingo, outubro 17, 2010

o conceito de infinito

no início, pode chegar a parecer conjura dos céus. com o tempo, (com a idade?) aprecia-se a ausência de fórmula e a presença da pergunta. pixel a pixel, cada um vai construindo o seu esboço. até ao infinito.
a bom rigor, traduzindo a primeira acepção do latim, carpe diem seria: colhe o dia.
colhe o dia. colhe o dia. colhe o dia. colhe o dia. colhe o dia.

quarta-feira, outubro 13, 2010

sempre apreciei a expressão fim do mundo em cuecas.

terça-feira, outubro 12, 2010

é da minha memória
hoje, ao vestir os collants, encontrei um pêlo do meu gato. é tal a aderência da textura das meias que a peça não escapou ao contacto com o ínfimo elemento que andava pelo quarto. o meu sobrinho pensa muitas vezes em telefonar ao bicho, embora saiba que ele talvez não possa atender, por estar a dormir nas estrelas.
não sei bem como explicar como tem sido a minha relação com a saudade, pensando agora em termos mais abstractos e transversais. há ausências que me pesam sem que apareçam sob o signo da perda, ou seja, a própria memória já se insinua como posse, uma reserva valiosa e íntima de algo.
em conversa com um amigo sobre o ter, conheci uma perspectiva curiosa: tratava-se da defesa de que a detenção absoluta, que legitime considerar é meu, pode ser ultrapassada pela simples possibilidade de se admirar o objecto de posse, ou pelo facto de este ser pensável sempre que o queiramos. ouvi com desconfiança e não sou subscritora integral, mas tenho pensado no assunto. à medida que a questão se vai arrumando, vai conquistando mais espaço em mim.
vou continuar a pensar na matéria.
até logo.

sábado, outubro 09, 2010

ir ao fundo, vir à tona


o meu exemplar do Livro do desassossego está há uns anos estacionado em segunda fila, com a lombada voltada para dentro, porque não quero "desassossego", em garrafais, a espreitar da estante para o meu quarto. fica a capa em gabardine, de lado, com o Pessoa a caminhar e o título em letras mais pequenas, num ângulo com menor projecção. visito o livro de quando em quando. é um lugar importante, mas não o quero como ideia pregnante nos meus dias.

cheguei há uma hora do TNSJ, onde o desassossego de j. botelho está em exibição.
sem sono, molhada pela tromba de água que regou a viagem de regresso, ainda preciso de dormir, para o meu íntimo processar a informação sem vigilância. embora tivesse gostado de quase tudo que vi e tenha admirado o modo como a deslocação (neste caso, prefiro esta palavra a adaptação) para cinema foi feita, não consigo deixar de sentir uma falta: a conversão do abismo em luz.

não tresleiam, senhores, por favor. nada disto tem que ver com este filme, exclusivamente, ou com o realizador. não seria, aliás, muito razoável olhar uma obra ao metro, medindo-a pelo que não tem, só porque eu o procuro. quero repetir que, tendo em conta o que é a base literária, o filme tem uma sintonia justa e uma fotografia a que me rendi por completo, aliás, outra coisa não esperava eu do realizador. a questão que levanto parte deste para qualquer outro artefacto e é uma procura constante da minha parte: gostava de ver caminhos que devolvessem a superfície ao mergulho constante no negrume, na angústia, no tédio e num esvaziamento de sentido profundos.

alguém há-de pensar que fico à espera de um final feliz com bordados de clássico-ao-domingo.

não.

se a existência também é sombra, tal não pode nunca ser ignorado. ando apenas à procura de ver a regeneração (que implica, naturalmente, uma destruição prévia) a ser explorada com tanta mestria e detalhe como o enjoo e a agonia.
sempre à espera.

bom fim-de-semana.


sábado, outubro 02, 2010

com o procurado ou com o que se procurava sem haver sequer noção. com uma presença tangível ou com uma voz de papel. com uma melodia ou com uma tela. com uma ideia por formular ou com a solução que alguém formulou melhor.
o encontro.
a chegada de um exterior onde o interior reconhece espaço. o encontro é um dos segredos mais bem contados nas nossas vidas.
tenho alguma curiosidade em saber o que vou pensar acerca do assunto daqui a dez anos.