deu
quando se derrota a fila interminável para transpor o limiar da entrada para a sala da exposição, há que enfrentar o olhar de amadeo: incisivo, quase a obrigar a desviarmos o nosso. Je travaille, a cor-de-rosa, pintado no canto inferior esquerdo da parede central, tomada de alto a baixo pelo recorte do pintor. não sei se percebi o alcance da quase epígrafe introdutória da exposição: o belo implica labor? a arte não é um cose meias desprezível, é consumação de valor? não tenho a certeza. e se calhar não é muito importante deter-me na exactidão da inscrição. a partir daqui, o percursos era livre, os visitantes transitavam entre as divisórias como queriam. o fado obrigou-me ao convívio com dois ilustres provectos, da câmara de não sei de onde. teimaram em colidir com a minha rota de observação; liam em voz alta as sílabas fragmentadas nalguns dos quadros com intersecções linguísticas: A-MOR. Já encontrou neste? tudo isto a apontar com o indicador, a escassos milímetros do quadro, acrescentando coreografias a quem apenas queria ver a pintura sem intromissões, à distância. e eu a olhar para o delimitador de distâncias, deitado no chão a uns centímetros da parede, nalguns sítios, uma espécie de pirâmide triangular a lembrar o paliteiro. lembro-me dos contornos dos motivos que incluíam animais, nunca, havia ali traços de herança que me lembravam, à toa, segundo um filtro de mera observadora, que é o meu, gaugin, por exemplo, não deixando de prevalecer ali um quid qualquer novo. pássaros, coelhos, camelos. desconhecia completamente os desenhos a tinta da china que me colaram à parede uns bons minutos por detalhes de agrado que não sei bem explicar, nem isolar. saía da abstracção da contemplação e religava as meus phones internos ao redor, rodando para outra ala da exposição. PRA-ÇA-DE-TOU-ROS. ora, ora! já encontrou esta aqui? fantástico! era duma imaginação! eles, outra vez… novidade para mim foi a diversidade de registos. não tinha noção de que a produção fosse abundante e abarcasse variedade de estilos. cristalizei memórias pictóricas do livro de história, seleccionadas, e só mais tarde amplio a percepção. é recorrente. vários quadros, em nada surpreenderam, pois o nosso olhar de século XXI já não é virgem em determinadas manobras de pincel. mas isso não importa. dentro do seu tempo, o nosso amigo acompanhou bem o desabrochar de certas linhas. e os quadros, num pormenor ou noutro, pintaram-me a tela de dentro. A-ÇU-DE…!
2 Comments:
Ver os quadros do Amadeo como uma espécie de "onde está o Wally?", é deveras criativo. Como é que nunca ninguém se lembrou disso. Estes humanos... Sempre em busca de um qualquer fáit dáivers (segundo Lauro Dérmio).
Beijos Agnes
Perdoa-me as contínuas ausências.
para haver perdão é preciso haver culpa, coisa que não vislumbro:
faz parte do estatuto marginal a lateralidade aos comentários.eheh:P
bjs do norte na tua terra*
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