sexta-feira, fevereiro 29, 2008

a 9ª minguante já está à solta!

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

tpc
desafiada por este senhor, deixo aqui o meu elo para a corrente da dúzia verbal eleita que por aí circula: escolher doze palavras significativas e com elas redigir um texto ou, mais batoteiramente, fazer uma listagem e explicar o porquê da escolha. é suposto intimar outras almas a seguir o desafio. ora, a minha costela liberal e esquiva a protocolos, limita-se a dar continuidade à cadeia, deixando ao arbítrio dos leitores interessados, prolongar ou não o jogo, com um novo postelo (post+elo) se for essa a vontade. o convite é aberto a qualquer leitor.
a Luz molhava o pequeno copo em cima da mesa que, mesmo vazio e enxuto, fazia disparar um reflexo para a retina, comparável ao ondular da água das piscinas, que se costuma perceber mesmo numa parede ao lado, sem ser preciso olhar. isto lembrava-lhe de quão difícil é fazer TATEWAKE - em japonês, perto de um sentido deste género: discernir o que é correcto e o que é errado, em absoluto, sem ambiguidade - verbo em ponto de fuga difuso... é tremenda a opção judicativa com que somos obrigados a carimbar as situações; entre haver água naquele copo azul ou não, a diferença era quase imperceptível. o frio da manhã contra a pele, cerrava-lhe os poros, mesmo assim, permaneceu sem casaco, talvez despertasse mais depressa. sobrara-lhe uma lente de contacto, avulsa, sem par para o olho esquerdo, pelo que saiu à mercê do enevoado míope que lhe embaciava o redor, por lhe faltar vontade de sentir uma presença alheia ao corpo, como são sempre os óculos. se passasse algum vizinho, o cumprimento seria retardado pelo compasso de certificação de identidade. conhecido que era o seu quid de distracção, pouco se importou com o facto. enquanto caminhava, desarticulava uma tangerina em gomos que ia comendo devagar. quando regressasse a casa, era prioritário decidir onde ficaria aquela peça a cinzel que lhe haviam oferecido, para que ganhasse pó num dos mais nobres sítios da casa.
dixi.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

ar condicionado
ar condicionar

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

estendal
desci o pequeno estendal interior do tecto da marquise para dependurar a minha toalha de banho. nas traves de plástico paralelas, caíam as dos meus pais, em dobra. pude sentir o cheiro delas: apesar de o meu nariz perceber uma base comum, por ser comum o amaciador com que são lavadas, não deixou de se sentir um odor conjugado, modelado pela identidade do corpo que vem impregnar a toalha de modo específico. singular. não sei muito bem se cheguei a querer tirar alguma conclusão com isto. não percebo, aliás, por que é a percepção desta diferença, óbvia, sabida, me deixou a pensar para além do pequeno almoço. creio que é a percepção do outro como não-eu, massa específica, lugar a perceber, irradiador de sentido, que me absorve sempre com mais intensidade. se é pelo outro, se é pelo eu, por diferenciação, ou se é por ambos não sei com certeza. sei que o tocar na singularidade alheia, mesmo que com o nariz, como foi o caso, é sempre tarefa em que me vejo demorada. voluntariamente. involuntariamente.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

cabo fio conexão ponte elo charneira veículo
precisa-se

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

matemática aplicada

depois daquela altura, de cada vez que uma nova angústia mais funda lhe ancorava nas veias já sabia: estava para compreender qualquer coisa. estava a caminho de o saber.
e antes?
também. mas tudo ao longo de uma espécie de filme da disney.
a partir de agora é que era.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

cru

há ciclos em que tudo está congelado: existe a possibilidade de, mas ainda não é a altura em que. o redor é uma elipse de objectos à mercê, que contornam a nossa figura. não é assim tão difícil tocar-lhes, mas é preciso a ideia justa para os transformarmos de feição. primeiro, tocar a ideia de feição, em abstracto, no íntimo, para depois cinzelar o em-bruto. aguardar os ditames da receita íntima e individual. o livro de culinária, código de papel, fica de feição: na prateleira.

domingo, fevereiro 10, 2008

eu recuso-me.
tu não estás.
Ele lá sabe.
nós não podemos.
vós concordarieis.
eles nem sonham.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

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terça-feira, fevereiro 05, 2008

The Darjeeling Limited
by wes anderson

pouco ou nada senti de histriónico. o cómico de situação instala-se de modo a dar lugar tanto a riso como a desconforto. não há acutilância. mas há acutilância. porque o há na matéria. para já, esquivo-me à etiqueta tragicómica por não me sentir muito à vontade com ela. os carris dos afectos, sejam eles em torno da família, dos amigos, dos amores-amores, passam invariavelmente pelos espaços apertados dos corredores deste comboio. as viagens em que embarcamos, por oposição às fugas e projectos que declinamos, sejamos ou não perdoados por isso, perdoemos ou não o facto, reproduzamos ou não alguns dos erros que implacavelmente queremos imputar ao outro. a orientação - ainda bem - pela estética do destrambelhado, sugere muito mais do que revela. fica-me, por exemplo, o pequeno almoço do virar de costas absoluto da mãe por digerir. é terrível, sem que assim o seja na tela. hei-de conseguir ser mais organizada e detalhada ao pensar no filme, entretanto, se puderem, apanhem este comboio.


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sábado, fevereiro 02, 2008

(...) Junto à casa de chá, quando estou mesmo a passar por ele o cego diz algo. O que diz? por uns instantes fico a lutar com os meus ouvidos. Ouvir por vezes não é fácil. Ele disse: alguém me diz as horas? Havia ali uma sensação clara, trágica: como aquele que tem direito a um último pedido e o faz. O cego atirou aquela pergunta para o ar, não a dirigiu a ninguém. Que alguém a apanhasse, à pergunta - como se fosse um objecto - e tivesse a gentileza de responder. Que gentil sou quando tenho medo, quando o mundo me causa estranheza: aproximei-me do cego, respondi-lhe à pergunta. São duas e meia, disse-lhe (não tenho relógio, tinha visto as horas há instantes no grande relógio da esquina). Ele agradeceu. Levantou-se do banquinho. Duas e meia. Eram horas. Para qualquer coisa. Pegou no banco com a mão esquerda, na direira a bengala. Ele tinha de ir. (...) é fácil indicarmos o caminho a um cego. É isso a cegueira: alguém não sabe onde está, não vê o espaço, as coisas que existem no espaço. Se está cego tem uma limitação geográfica, desorienta-se no espaço, no espaço, meu caro, não no tempo. Aquele cego a perguntar as horas fez-me tropeçar. Como se pela primeira vez entendesse que a cegueira não é apenas o espaço e as suas coisas ficarem invisíveis: também é difícil ver o tempo quando não há olhos (...)
Gonçalo M. Tavares
Visão, 31 de Janeiro de 2008