sexta-feira, maio 30, 2008

sobre a beleza

clicando na imagem, amplia-se a crónica de Gonçalo M. Tavares, publicada na Visão desta semana. não me apeteceu cortar nada. fica mesmo assim: citada em bruto.

quinta-feira, maio 29, 2008

o assalto & a mente armada

o assalto vangloriava-se de ser capaz de subjugar a mente. por completo. sem grandes fundamentações, de modo intuitivo, condizente com a sua própria fibra emocional, divertia-se a atravessar paredes mentais para semear estados de alteração súbitos. a mente sabia que a implantação do seu método de defesa seria não-imediata, de modo organizado, condizente com a sua própria fibra racional. levantava-se todos os dias cedo para se exercitar. saía sem saco, porque não gostava do espaço fechado e artificial do ginásio. corre o dito que costumasva vestir umas claças de fato de treino um pouco pirosoas e que passava pela rua em grande alheamento a olhares do redor. aguçava ameias internas e estudava todas as modalidades de arremesso do assalto para as desmontar. o assalto ria-se, muitas vezes, de forma cavernosa. a certa altura, começando a tomar consciência da dificuldade que sentia em atravessar paredes mentais, apercebendo-se de que em certas circunstâncias já nem sequer o conseguia, tentasse o que tentasse, entediou-se e consumiu-se no seu próprio fracasso.

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terça-feira, maio 27, 2008

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sábado, maio 24, 2008

sincronia

acordou com o estômago a queixar-se de qualquer coisa, uns minutos antes do primeiro trovão desta manhã atroar o redor. logo a seguir ao primeiro ribombo, como que a abrir uma fenda no céu para verter a chuvada que se seguiu, sentiu um alívio: o estômago melhorara.

quarta-feira, maio 21, 2008

sobre
pensava em subir a um telhado ou a uma árvore de altura pouco recomendável para contemplar a cidade, sobranceiro à marcha do mundo. de súbito, lembrou-se de que jamais conseguiria olhar-se acima do seu campo de visão. a tela é sempre incompleta.

domingo, maio 18, 2008

morrissey everyday is like sunday

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sexta-feira, maio 16, 2008

Contos da lua vaga
Kenji Mizoguchi (1953)

a digestão do filme ainda em competição com a digestão do jantar. ocorre-me perguntar como sentirá um oriental o quid gótico, entendido a partir do ponto de vista ocidental. não tenho o tronco caligrafado a sânscrito, mas já tenho o corpo adormecido pela noite. por ora, retiro-me. continuarei a pensar.


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Siegfried Zademack
Der vergessen Schirm
(1988)

quinta-feira, maio 15, 2008

presenças na parede

a sombra das plantas em cima do muro e das que estão assentes logo abaixo, no pátio, aparecia, dispersa em pequenos triângulos esbatidos, a forma resultante da sua projecção contra a parede quando as nuvens destapavam o sol e a superfície de pedra se tingia de uma súbita epidemia geométrica, logo omissa pela vinda de uma nuvem mais espessa, que voltava a absover o sol, deixando a parede crua. vazia de qualquer sombra, pelo sugar repentino da luz. enquanto ardeu o cigarro, este on-off sucedeu-se em cerca de quatro ciclos. entretanto, fechei a janela. estava frio.
à pergunta pelos sinais do divino, por marcas evidenciadoras do Demiurgo, respondia muitas vezes com o corpo, com os corpos da natureza sobre a terra. para alguns inquisidores da fogueira invertida, a chama que não concebe a heresia de se acreditar em tais coisas nos dias que correm, esse argumento era contraproducente: achavam-no clara e demasiadamente profano.

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quarta-feira, maio 14, 2008

amos oz
Se eu pudesse comprimir o sentido de humor em cápsulas e, depois, persuadir povoações inteiras a engolirem as minhas pílulas humorísticas, imunizando desse modo toda a gente contra os fanáticos, talvez um dia chegasse ao Prémio Nobel da Medicina, em vez do da Literatura. Mas escutem! A simples ideia de comprimir o sentido de humor em cápsulas, a simples ideia de fazer com que os outros engulam as minhas pílulas humorísticas para seu próprio bem, curando-os assim do seu mal, já está ligeiramente contaminada de fanatismo (...) Afinal, se não podemos vencer o fanatismo, talvez possamos, ao menos, contê-lo um pouco. (...) a capacidade de nos rirmos de nós próprios constitui uma cura parcial, a capacidade de nos vermos como os outros nos vêem é um outro remédio. A capacidade de conviver com situações cujo final está em aberto, inclusivamente de aprender a desfrutar dessas situações, de aprender a desfrutrar com a diversidade, também pode ajudar. Não estou a pregar o relativismo moral total, com certeza que não. Tento realçar a nossa capacidade de nos imaginarmos uns aos outros. Façamo-lo a todos os níveis, começando pelo mais quotidiano. Imaginemos o outro quando lutamos, imaginemos o outro quando nos queixamos, imaginemos o outro precisamente quando sentimos que temos cem por cento de razão.

in Contra o Fanatismo


terça-feira, maio 13, 2008

rosto de rádio [1]
com luzes a assinalar actividade, modalidade e boa captação de sinal. mono, stereo, turner, cd: os matizes de algum rubor por contraste com a palidez natural da pele. um dos botões, o sintonizador, com a prata coçada pela constante rotação em busca de frequências, nuns olhos de brilho fatigado pela procura e observação do redor aflita. o outro, o do volume, com sinais visíveis de manuseio, mas com uma tonalidade de oxidação diferente. uma espécie de amarelado petrificado numa camada da dentição dentro da boca, a natural amplificadora que nos foi providenciada e que, no caso em estudo, parece não ser usada há bastante tempo. ao lado, destacada, uma coluna antiga. está desprovida de força exteriorizadora: o cabo está desligado da aparelhagem, o fio não forma aquele arco invertido que balança em forma de ponte da coluna até à entrada na aparelhagem. não há qualquer canal para a travessia do som até à audibilidade pública. externa. não se captam os sons ou os simples estrugidos de ruído, quando o sinal não chega. de fora, porém, é bem notório o deslize constante da agulha de uma ponta à outra, em sintonização por fixar.
deixem-no estar sossegado.
[1] sem colunas

segunda-feira, maio 12, 2008


domingo, maio 11, 2008

minguante nº 10 à solta.

segunda-feira, maio 05, 2008

As recolectoras de varec
Gauguin 1889

a reaprender a olhar a substância do redor que piso.


domingo, maio 04, 2008

do porto a pequim de... 2 cv!

este menino volta a fazer das suas.
a partida será na terça-feira, dia 6 de maio.

sexta-feira, maio 02, 2008

WC

os espectadores encaminharam-se para a saída. em magote. com o olhar preenchido de tela e da discussão posterior. alguns desvios, antes do último lance de escadas de acesso à saída, para o wc. depurar tudo o que não interessou e ficou a mais a circular no interior, para se poder, então, comentar o filme de modo mais filtrado. fui um dos desviados. não sabia que depois de entrar passaria a ter uma extensão pessoal para a dupla universal WC. foi o que me ocorreu quando ouvi uns passos sem tacão a entrarem apressados num dos espaços individuais para desatarem num pranto. ir ao wc por se estar aflito para chorar, o único sinal, altissonante, que vinha das paredes ao lado. demorei-me a lavar as mãos, a secá-las, a procurar objectos de que não precisava na carteira; o choro era tão perturbante que cheguei a considerar perguntar qualquer coisa que, naturalmente, não sabia, porque, naturalmente, não existe para ser perguntada nestas ocasiões a um estranho. e se fico e constranjo? é melhor sair. vou sair. foi melhor. a porta individual ainda se abriu para os lavatórios, mal conseguindo eu perceber quem de lá saía, porque a presença em pranto, ao ver outra pessoa no espaço, recuou e trancou-se de novo. eu saí. sentia aquele eco nos ouvidos e desdobrava, para mim ,WC: walls to cry. a importância de um espaço que nos resguarde do olhar do outro.