quinta-feira, agosto 30, 2007

O Homenzinho

Observou o tecto com atenção e sentiu um arrepio
Olhou o chão e certificou-se da altura da parede
Disse: oh maravilha do nosso tempo, o chão subiu
A mulher respondeu: a terra continua no seu lugar
Ele retorquiu: então o tecto baixou
A mulher respondeu apenas:
pensa numa terceira hipótese
nesta por exemplo que tu cresceste talvez
que tu cresceste talvez
que tu...
Ele não respondeu
A terra voltou então ao seu lugar
e o tecto tornou a subir

Ahmad Dahbur

Pequena Antologia da Poesia Palestiniana Contemporânea; selecção e tradução de Albano Martins

quarta-feira, agosto 29, 2007

fizeram-lhe um relatório cardíaco de uma criatura que não queria paixões dentro de si, nestes justos termos:

ameacei bater-lhe,
bater ao coração,
se ele continuasse a bater-me
como batia quando batia,
mas ele continuou a bater.

terça-feira, agosto 28, 2007


recebi - e hoje o carteiro tocou realmente duas vezes, arrancando-me de uma merecida horizontalidade matinal - um postal da J., escoado da Turquia, donde destaco a frase mais curiosa:
São dois continentes numa cidade só, literalmente, e eu que pensava que a palavra tolerância pertencia à Europa!

segunda-feira, agosto 27, 2007


de volta à cidade: a janela do meu quarto devolve-me o ruído dos carros e o ladrar doméstico dos cães da vizinhança. deixo de ouvir ruídos de javalis e raposas a correr entre as silvas e a calcar as folhas, ou ecos de gado. acordo de madrugada com o meu gato a treinar salto em comprimento em cima da minha cama. vou pôr manteiga no pão que a torradeira acabou de apitar.

segunda-feira, agosto 20, 2007

vou ali acampar e já venho.
boa semana para todos!

sábado, agosto 18, 2007

Help the aged, Pulp

conseguir incorporar a minha avó e os Pulp numa mesma área de pensamento é coisa que me dá vontade de rir. sem que o dê genuinamente, contudo. há já uns dias que procurava referências sobre a interacção geracional com os velhinhos. é. fica velhinhos. é mesmo assim que me apetece escrever. lembrava-me do De Senectute, de Cícero, sem vontade absolutamente nenhuma de lhe arriscar traduções de gramática empoeirada e enferrujada, logo em agosto, ou de ler uma tradução efectuada. há uns minutos, dei comigo à procura desta música, relembrando o quanto gosto dela - com as devidas ressalvas e divergências nalguns pontos da letra, por atrito e diferente concepção sobre o fim - e encontrei um altifalante comum a legitimar a necessidade de certas persistências.

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quinta-feira, agosto 16, 2007

postal de férias para a minha memória
com a ajuda de J. Augusto Seabra
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Erro exacto
da mão
corrigindo
o acaso.
#
Não calques
a leveza
dos passos
levitando.
in Oxímoros
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quarta-feira, agosto 15, 2007

há paredes de pedra que também são de pano e deixam a casa descarnada, à mercê de quem passa e quer mexer.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Tübingen, julho de 2002
consegues saltar sem tremer o assobio?

sábado, agosto 04, 2007

título para um post, não necessariamente o próximo:
A cortina
o calor atira para contemplações: fermentam as ideias, adia-se o jacto.

quarta-feira, agosto 01, 2007

de fundo amarelo e letrinhas vermelhas e tudo, tal como as antigas paredes aqui da casa. directamente de amesterdão, graças à retina rapinadora de Sputnik (obrigada*), elejo esta foto para assinalar o 1º ano de existência deste meu infante Poros, de renome já internacional!
alguns alpinistas gostam de parar para um café ao longo da escalada. a rarefacção do topo só assusta quando não há sentido. e para haver sentido a circulação tem de ser sentida, a percorrer as veias, com velocidade. até as paredes da rua gostam de heras que as percorram e lhes recortem a planura vazia. é provável que ninguém esteja autorizado a discorrer sobre paredes, o que faz de qualquer consideração sobre as ditas uma simples consideração subjectiva. quem quiser que pegue na chávena e vá subindo. que espere que o eco do cume lhe devolva algum segredo.