sábado, abril 28, 2007

tímpanos e retinas

a veemência esconde, muitas vezes, mentiras tremendas e não cora.
a hesitação expõe, muitas vezes, verdades difíceis e, por isso, cora.
é melhor ouvir bem do que ver bem.

nunca mais me esqueci desta, mas a questão de quem enuncia não fica resolvida.

sexta-feira, abril 27, 2007

Gotan Project - Diferente

simetria. o-que-é-outro.

quinta-feira, abril 26, 2007

a impressora era antiga, fazia um barulho agudo e demorava muito a devolver a página. quando o diagnóstico acabou de ser impresso, pôde lê-lo em mãos. funcionava tudo em regime de self service, não estava nenhum técnico por perto para carimbar, assinar ou esticar a folha com autoridade. cada um confrontava-se com o seu resultado. não havia paredes a permear as impressoras daquele espaço, mas quem estava presente não via os outros utentes, apenas as impressoras a funcionar, que indiciavam operações similares ao lado. era um desperdício de papel: uma folha A4, branca, com o veredicto na última linha permitida pela formatação, a times new roman, letra 10.







mania de totalidade (1)
(1) para aprofundamento do tema, sugere-se a rima: totalidade-ingenuidade. terá de descobrir a impressora que glosa a questão. boa sorte.

terça-feira, abril 24, 2007

polir
naqueles dias de disparo primaveril, acordava com os olhos lacrimejantes. o corpo encarregava-se de providenciar uma espécie de fio de lágrima, talvez mais espesso do que o normal, para limpar o globo ocular, as esferas permeáveis ao redor tangível. e ver melhor é sempre melhor, mesmo que mais delicado.

sábado, abril 21, 2007






The Arcade Fire

ocean of noise

quinta-feira, abril 19, 2007

Uma máscara para o cabelo

as minhas renovações de BI costumam acompanhar mutações em catadupa. desta vez, foi o corpo a dar sinais, no couro cabeludo: quando fui cortar o cabelo, fui admoestada a fazer uma máscara no cabelo... processo simples: uns cremes evidentemente exorbitantes e uns minutos dentro uma estrutura irradiadora de calor, com aspecto sideral. uma questão de hidratação, nada mais. fiquei a pensar na máscara. aguardam-se metamorfoses seguintes. desta vez, estou preparada.

domingo, abril 15, 2007

pouca Terra
conta-se que para quebrar o tédio do ritual de espera pelo comboio, havia um par de bailarinos que dançavam uma espécie de tango, em plena linha. a indumentária tinha o logotipo da companhia ferroviária, mas o corte dos tecidos assentava nos corpos com volúpia, nada do despojamento das fardas de funcionário que hoje vemos nas bilheteiras. a música vinha dos altifalantes; abafavam os avisos sobre horários e destinos dos comboios que, na realidade, eram escassos, e berravam para o ar como uma grafonola antiga. dizem as más línguas que já na altura se ouviam pedaços de som parecidos com Gotan Project. os conservadores rebatem isto, mas não conseguem provar o contrário. a dança acabava a escassos metros da chegada do comboio: os bailarinos paravam no momento em que o vórtice de ar da locomotiva levantava a saia da mulher e despenteava o cabelo do homem. o par separava-se, saltando da linha para as plataformas de cais, opostas, que o comboio em rápidos segundos passava a permear. os mais românticos contam que os passageiros protestavam porque não havia beijo final: os ânimos quase a ter um ataque por ver a proximidade do comboio e.... nada! apenas coxas ao léu e cabelo no ar por uns segundos! não havia direito! os mais conceptuais sublinhavam que o tango era mesmo assim: tangências que se furtam, consumações por acontecer.

sábado, abril 14, 2007

sons que o último lynch desenterrou. memórias de ouvir por tabela: os monopólios acústicos dos tempos em que o meu irmão se assenhoreava da sala. memórias das buscas pessoais: ambivalentes, como a conjugação das cores para "floating" e para "into the night" que recortam a capa. era a limpidez da voz e o musgo de algumas letras.

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tu também só te preocupas com os cactos!
e eu a ver como é que o senhor se defendia, ou que outro vaso de atenção podia desculpar um ataque destes.

sexta-feira, abril 13, 2007

O homem de génio

O homem de génio é um intuitivo que se serve da inteligência para exprimir as suas intuições. A obra de génio(...) é a transmutação em termos de inteligência de uma operação superintelectual. Ao passo que o talento, cuja expressão natural é a ciência, parte do particular para o geral, o génio, cuja expressão natural é a arte, parte do geral para o particular. Um poema de génio é uma intuição central nítida resolvida, nítida ou obscuramente (conforme o talento que acompanhe o génio), em transposições parciais intelectuais.

Fernando Pessoa: Páginas sobre Literatura e Estética


terei percebido o que é "uma intuição central"?

quinta-feira, abril 12, 2007

female nude with deer

e. e. cummings
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quarta-feira, abril 11, 2007

Balada de um mago

Carta do destinatário ao remetente,
declaração do IRS ao contribuinte,
ideia de uma ideia acerca do cérebro,
grito de um”aaah” às cordas vocálicas,
profecia do ouvido sobre o segredo,
acção do corpo sobre o calmante,
apetite do menu ao ler a vontade.

terça-feira, abril 10, 2007

carlos drummond de andrade
Não me contradigas. Sabes muito bem que nenhum de nós tem razão.

ao senhor f., pelo humor que o rememorar da citação trouxe. tornou a ser útil entre uma conversa de final de tarde, que acabou em galhofa por causa do gauche de cima. o tema do andar de baixo hoje perseguiu-me: a recorrência de certos assuntos é crónica e irreversível...!


domingo, abril 08, 2007

na mala: um arsenal de corso de mp3, uma barrigada de cabrito congelado do almoço de Páscoa, O Príncipe, de Maquiavel, artigos indizíveis, mais a pena de não ter tido tempo de rever serralves. até amanhã, Lisboa.
Sputnika:

tardo tanto em escrever que acho que a recepção de resposta já não se compadece com um simples e-mail!tento esta via para me redimir, dizendo que é a sul que me encontro, com intermitências de alguns fins de semana a norte. âncoras a prazo, para já, e até não sei quando. mas a sul. reconheces a foto? a sua origem difusora até mim? aqui, é uma tentativa de ilustrar a correria em que tenho andado. já sei que venho com a minha tirania explicativa, que a imagem devia fazer sentido por si só. sou, incorrigivelmente, uma criatura de palavra. já é crónico. lembro-me muitas vezes de ti ao ouvir o rugido dos aviões sobre a avenida de roma. vai redigindo o relatório: os censores I & R aguardam novas da amiga, a sua madrinha em fuga. quando chegares, assobia!

é a imagem que foi distribuída hoje pelo compasso da minha paróquia.


- mas qual é o teu problema, afinal, não acreditas em Deus, não acreditaste sempre, desde que existes?
- claro, mas é de Jesus Cristo que estamos a falar.
- sempre me pareceu que também acreditavas em Cristo. já não?
- sempre e ainda.
a questão é que acredito tanto em Cristo, como em Buda ou em Confúcio ou em Maomé; poupa-me à cantiga dos taliban e à jihad, por favor, refiro-me à missão original e arquetípica de ser mensageiro, humano, mas divinamente inspirado.
- e, então, por que é que não recebeste o compasso hoje e te arrastaste de pijama até o sino tocar perto da janela?
-não sei se o crucificaram, realmente, para que faça sentido celebrar uma ressurreição. sintonizo com os ensinamentos, estudo-os e releio-os como um druida com iliteracia. é por isso que gosto da Bíblia, é uma fonte inesgotável de sentidos, com uma beleza poética matricial, mesmo em partes que ache claramente datadas ou doentes de severidade. sobre a biografia, pouco afianço. quase nada. é aqui que quero chegar.
- não me digas que andas às voltas com as templarices e com a crucificação de joão baptista...
- claro... ou de um antepassado do jean cocteau... sempre era mais freakalhote e combinava com as historinhas sobre os membros do Priorado de Sião, não?
- não fujas à conversa. se não o crucificaram, então que lhe aconteceu?
- vou repetir: não sei. já li versões alternativas, por exemplo, sobre a passagem de Cristo pelo Tibete, pela Índia, pelo Japão... pode ter escapado, sendo outro homem crucificado.
- essas viagens terão-se dado antes ou depois da suposta - com as tuas desconfinaças é sempre suposta -crucificação?
- também tenho essa dúvida, já li as duas coisas. não faço do biografismo âncora de nada. já te disse: gosto dos ensinamentos, ponto final.
- não fará parte dos atributos crísticos a ressurreição, não será esse o grande momento em que a sua humanidade é divinizada?
- não. para mim, não. a mensagem e as obras são o suficiente. e para considerar a ressurreição o quid, é porque se minora o milgare que se pode dar na mudança de plano de qualquer criatura cujo corpo físico faleça: o espírito permanece e viaja para um algures que só perceberemos quando lá chegamos. outra vida, outro ciclo. permanecer na terra não é, para mim, O milagre. se Lázaro tiver realmente permanecido após uma primeira morte, tal apenas prova a sua humanidade, a sua ânora à terra, não a sua divindade. continuar a existir, vencendo-se pela metamorfose, isso sim, é para mim miraculoso. continuar. como é a reciclagem da capacidade de voltar a amar quando achávamos que o coração estava refém no rés-do-chão de um poço.
- muito bem. que provas tens tu de que as coisas sejam realmente assim?
- provas semelhantes à equação do segundo grau com que explicas o amor que tens, por quem tens e porque tens: não as tens. a passionalidade da minha fé não é documentável. não tem de ser.para ninguém. ninguém. a matéria de facto está no espírito. é como tentares conjugar todas as pessoas de um verbo de uma só vez, sabes muito bem a flexão, mas não consegues dizer o todo com um só fôlego labial.
- bom... depois disto tudo, sugeria uma ida ao café do cais, ver o douro e beber uma carlsberg.
interior da capa do álbum sympathique, dos pink martini
esquivo-me, sucessivamente ao post pascoal. e se isso tivesse a ver com indiferença. mas não...
JP Simões convida Göethe para um porto e uma fatia de pão-de-ló, aqui.

sábado, abril 07, 2007

só mais um recado

não temas a diluição nas conversas; mesmo que acredites que vais tingir a percepção de quem ouve - com certeza que já leste Pirandello, embora ainda não tenhamos falado nisso - aprende com o chá, que lança o suco da sua floração, para não ficar seco, para a água poder passar a ter um sabor definido, que se conhece e se bebe com um travo de amizade: olha que quando falas ouço com o miocárdio.
Chiclete

A Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária reconhece que mastigar Chiclete, sem açúcar, contribui para a higiene oral em complemento de escovagem diária.

in caixa de Trident fresh (adaptado)
Quem quiser que avance com o diagnóstico, a verdade é esta: acordei sob o signo do esquecimento, sem ter ainda percebido porquê. impacto imediato: conceber um conceito de pastilha elástica que, uma vez mascada, produzisse esquecimento: com moléculas de água do mítico rio Lete, corrente do olvido. era só juntar estas H2O com spearmint, pepermint, morango, frutos silvestres, canela ou outros. e depois? e as memórias que quisessemos preservar? como é que se geria a acção da pastilha? é melhor não dar ideias, que a ideia de súbito deixou de me agradar...
Tanto silêncio

Para cá de mim e para lá de mim, antes e depois.
E entre mim eu, isto é, palavras,
formas indecisas
procurando um eixo que
lhes dê peso, um sentido capaz de conter
a sua inocência
uma voz (uma palavra) a que se prender
antes de se despedaçarem
contra tanto silêncio.
São elas, as tuas palavras, quem diz «eu»;
se tiveres ouvidos suficientemente privados
podes escutar o seu coração
pulsando sob a palavra da tua existência,
entre o para cá de ti e o para lá de ti.
Tu és aquilo que as tuas palavras ouvem,
ouves o teu coração (as tuas palavras «o teu coração»)?

Manuel António Pina

sexta-feira, abril 06, 2007

Lynchada

há mais de um ano que não ia ao cidade do porto ver um filme. a tarde de hoje também foi condimentada pela revisitação. antes de apagarem as luzes, ao ver as cadeiras pretas da plateia, lembrei-me daquele azul espesso do defunto nun'álvares e senti a melancolia sentar-se no assento do lado. passou; vir ao Porto tem destas coisas. por outro lado, foram várias as vezes em que ao ver INLAND EMPIRE, do senhor David Lynch, que tive de sufocar o riso. o meu espírito teve o capricho de despertar nos momentos em que mais ninguém se ria. a sintonização humorística de hoje estava ácida, daí o aparente despropósito; não me ri com a loco-motion, ao contrário do resto do público - OST procura-se - e chorei, literalmente, a rir com a filmagem da morte, entre a conversa da africana e da chinesa. talvez o meu irmão compreenda este facto. se já tiver visto o filme, terei de começar a preparar a minha explicação, porque me vai massacrar com a chave. tenho até domingo para não pensar muito. há microestruturas de sentido, e mesmo esse é poliforme, creio. pode ser que haja um fio de leitura mais abrangente: penso, por exemplo, no paralelo entre a primeira tentativa de adaptação do romance polaco, no passado, e a tentativa do remake a que assistimos, em todas as consequências que daí decorrem para a chegada de luz à personagem incial que fita a TV em lágrimas e no tal pagamento ou ajuste daquela conta; o sucesso e a finalização do remake presente saldam o falhanço e o negrume mísitico que tolda o anterior? é melhor não continuar... foi apenas um exercício de preparação para a resposta a dar ao meu irmão no almoço pascoal. não vou ingressar no sindicato hermenêutico-lynchiano que já profetizo e que se costuma criar nos dias após a audiovisão dos seus filmes. é conhecer o maestro, as personagens e as suas funções tipológicas, oníricas e mediúnicas, a necessidade de recolha de dados com atenção, dada a suspeita de que sejam recuperados em metamorfose, eco, analogia, analepse ou outra. vier sieben... vão voltar a falar disto, vão voltar a falar disto... e lá aparece a porta 47 . é a porta que encerra os coelhos, um dos motes do riso abafado, logo no início, não pelo insólito em si, mas por me lembrar da Paula Rego, o que, pensando bem no mago, faz sentido de um modo curioso. o jeremy irons como realizador e eu a lembrar-me do missionário de flautinha entre os índios... nunca vi um filme destes com os olhos húmidos de riso (e repito que não é uma ridicularização), mas folgo em aproveitar esta minha lua non sensical até chegar ao quarto minguante da intransigência pesarosa. vou espreitar o Ípsilon de hoje para ver o que reza do filme.
[entre uma biblioteca que ajudei a arrumar, encontrei uma velha edição da portugália do livro "Cavalgada do sonho", de João Quintinha. gostei tanto do desenho da capa, que pedi um empréstimo para digitalizar. a pressa de a postar e a sintonia onírica com o filme visto atiraram-na para este post]

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a norte, durante o fim de semana.
homenagem a quem melhor me recebeu à chegada.

terça-feira, abril 03, 2007

por exemplo: a ideia da circunferência e dos ângulos, como gomos de um pedaço de real que se apreendeu, desliza pelas paredes da nuca sem que a consiga materializar. dizer que é preguiça é falso. há uma dose de inércia do gesto que vai grafar e vestir a ideia, mas a questão é que na ausência de intensidades, sem o disparo do termómetro conceptual, há questões que não se querem na página, resistem à exteriorização. não faço força. preguiça não é.

segunda-feira, abril 02, 2007

Marvin
Gaye
ouvido e reouvido durante o fim de semana. mudam-se as luas musicais.
ou os corações que bombeiam as veias do ouvido.