Maria Gabriela Llansol
partiu-se o pote de barro esférico__________ para flores, aspidistras, sobretudo, com relevo de ramo e pássaro. Era belo. Mas, quando olhou para o lugar vazio que deixara, principalmente a auréola de sujo que corroera o verniz do sobrado, a mulher reparou que os seus cacos formavam no chão um pregueamento de extrema beleza. A própria terra do vaso não destoava, nem as aspidistras pareciam sofrer com o sucedido. Em vez da irritação que deveria ter sentido, e a teria obsessivamente levado a repor imediatamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido obsessivamente levado a repor rapidamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido liberta de «um» belo inferior que, até àquele momento, considerara como perfeito. Para essa certeza, muito contribuíra certamente a simetria que o vaso formava com outro, de forma exactamente igual, no vão da janela.
Não pedira nem solicitar a ninguém a troca. Não havia imaginado beleza mais perfeita, apesar do vazio sujo deixados sobre o sobrado.
in Parasceve
há menos de um mês que o mesmo me aconteceu com um copo de vidro. cheguei a casa, à noite, ao fim de um dia de assobios e danças do vento, e vi os gomos de vidro fragmentados na banca, logo ao lado da janela aberta. e a moral a dizer: eu avisei... se tivesses lavado a loiça, o copo estaria amparado no escorredor e não partia. NADA disso. A moral não teve tempo. fiquei uns minutos a contemplar a beleza do estilhaço, como a voz acima transcrita. cheguei a tirar fotografias, mas ainda faltam uns dias para o rolo as dar à luz, porque o gatilho fotográfico tem disparado pouco. se tiverem ficado bem, ainda fixo uma por aqui. foi a custo que limpei a banca, não pela preguiça, mas pelo anular da construção. talvez me tivesse custado mais do que arrumar a cozinha depois de uma noitada entre amigos. guardei algumas partículas do copo, estilhaçadas dentro de si mesmas, numa espiral de subdivisão vítrea. uns minutos depois, ainda me consegui cortar num pé; o golpe não foi profundo, mas brindou-me com um inchaço entre o dedo médio e o anelar – isto usa-se para pés? – do pé esquerdo. o sucedido ficou-me incrustado na mente e há dias, inesperadamente, deparei-me com este fragmento que me renovou a vontade de ler este livro, há uns anos iniciado, mas encalhado na estante, com a lombada vitoriosa e sobranceira, insinuando o peso da leitura sobre a fragilidade das minhas pálpebras. depois deste reencontro tão forte, quando lhe voltar a pegar, vai de uma vez.
partiu-se o pote de barro esférico__________ para flores, aspidistras, sobretudo, com relevo de ramo e pássaro. Era belo. Mas, quando olhou para o lugar vazio que deixara, principalmente a auréola de sujo que corroera o verniz do sobrado, a mulher reparou que os seus cacos formavam no chão um pregueamento de extrema beleza. A própria terra do vaso não destoava, nem as aspidistras pareciam sofrer com o sucedido. Em vez da irritação que deveria ter sentido, e a teria obsessivamente levado a repor imediatamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido obsessivamente levado a repor rapidamente o quadro anterior, ficou de pé, hesitante, a cismar sobre o significado de ter sido liberta de «um» belo inferior que, até àquele momento, considerara como perfeito. Para essa certeza, muito contribuíra certamente a simetria que o vaso formava com outro, de forma exactamente igual, no vão da janela.
Não pedira nem solicitar a ninguém a troca. Não havia imaginado beleza mais perfeita, apesar do vazio sujo deixados sobre o sobrado.
in Parasceve
há menos de um mês que o mesmo me aconteceu com um copo de vidro. cheguei a casa, à noite, ao fim de um dia de assobios e danças do vento, e vi os gomos de vidro fragmentados na banca, logo ao lado da janela aberta. e a moral a dizer: eu avisei... se tivesses lavado a loiça, o copo estaria amparado no escorredor e não partia. NADA disso. A moral não teve tempo. fiquei uns minutos a contemplar a beleza do estilhaço, como a voz acima transcrita. cheguei a tirar fotografias, mas ainda faltam uns dias para o rolo as dar à luz, porque o gatilho fotográfico tem disparado pouco. se tiverem ficado bem, ainda fixo uma por aqui. foi a custo que limpei a banca, não pela preguiça, mas pelo anular da construção. talvez me tivesse custado mais do que arrumar a cozinha depois de uma noitada entre amigos. guardei algumas partículas do copo, estilhaçadas dentro de si mesmas, numa espiral de subdivisão vítrea. uns minutos depois, ainda me consegui cortar num pé; o golpe não foi profundo, mas brindou-me com um inchaço entre o dedo médio e o anelar – isto usa-se para pés? – do pé esquerdo. o sucedido ficou-me incrustado na mente e há dias, inesperadamente, deparei-me com este fragmento que me renovou a vontade de ler este livro, há uns anos iniciado, mas encalhado na estante, com a lombada vitoriosa e sobranceira, insinuando o peso da leitura sobre a fragilidade das minhas pálpebras. depois deste reencontro tão forte, quando lhe voltar a pegar, vai de uma vez.
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