quinta-feira, janeiro 31, 2008

Km 27º


quarta-feira, janeiro 30, 2008

permanências
como ainda não sei explicar bem a sensação, esboço um sumário da impressão que me fica do nó comum ás conversas dos últimos tempos.
ainda anda. ainda procura. ainda pergunta. ainda está. ainda faz. ainda vai. ainda sobe. ainda desce. ainda veste. ainda despe. ainda lava. ainda suja. ainda diz. ainda escreve. ainda explica. ainda ouve. ainda canta. ainda come. ainda bebe. ainda fuma. ainda grita. ainda sussurra. ainda beija. ainda coisa. ainda sua. ainda coça. ainda penteia. ainda corta. ainda corre. ainda abranda. ainda cozinha. ainda convida. ainda é convidado. ainda liga. ainda atende. ainda tira. ainda mete. ainda bufa. ainda sorri. ainda segura. ainda larga. ainda engonha. ainda despacha. ainda esconde. ainda assume. ainda desenha. ainda foge. ainda tem medo. ainda afronta. ainda cai. ainda dobra. ainda rasga. ainda cola. ainda ainge. ainda tinge. ainda esfrega. ainda. ainda é o quê?

quarta-feira, janeiro 23, 2008

pêlo
o pêlo dos bichos, que tanto os animaliza face aos humanos, barbeados, depilados, aparados, veste-os de uma imutabilidade incrível na velhice. o meu gato ficou com o miar mais cavo, perdeu bastante agilidade para saltar, tem o recorte das suas linhas oculares mais lasso, mas preserva uma mancha global de si, igual a sempre, desenhada a pêlo, que lambe com o rigor higiénico felino todos os dias. as linhas dérmicas, estradas de rosto e de vida que as nossas rugas hão-de denunciar, vão-se ajustando ao rosto, devagar, enquanto nos barbeamos e depilamos em coreografias de lâmina, cera e tesoura, pelos rituais civilizacionais dos dias.
vai uma carlsberg ali na Lua?
Sputnik:

chegou hoje ao burgo. vai hoje para o topo da pilha na mesinha-de-cabeceira. quando ultrapassar a página 41 - onde encontrei um stay in berlin rectangular a marcar - logo te contarei o que estás a perder ou, então, dou-te razão, o que obrigará, naturalmente a novo arremesso da tua biblioteca, com outro dos feitos da senhora. o autocolante verde pequenino, a colar o papel interior, denunciaria logo o S do remetente, se por algum acaso pouco provável não conseguisse descodificar a proveniência! obrigada*

segunda-feira, janeiro 21, 2008

horas de arqueologia de voz e som.
hoje, por aqui.

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ligar versus coar (para desligar)

sábado, janeiro 19, 2008

devia o metro estar a meio da ponte d. luís quando encontrei o T, velho companheiro de carteira no liceu. pude ouvir daquela voz roufenha sui generis alguns pormenores do seu último feito. conversámos até à rua 31 de janeiro, propícia ao diário de viagem e à confissão das últimas: talvez seja da inclinação, ou dos arranques do eléctrico ressuscitado. parámos ali a meio, antes de tomarmos um curso bifurcado fico com quem conseguir viajar os momentos mais importantes até istambul foram os que vivi sozinho despedi-me a sorrir do raio do 1 versus o 2, tema alheio às conversas adolescentes de há dez anos, mas que logo tratou de assegurar a cumplicidade presente, mesmo à pressa da despedida. ao longo destes anos, em que praticamente não nos encontrámos. a evolução das nossas bactérias coronárias seguiu, ainda assim, uma base muito parecida. curioso vir a perceber que na escolinha, ao meu lado se sentava uma espécie similar de 1.

quinta-feira, janeiro 17, 2008


o cine-estúdio do teatro do campo alegre estava sobreaquecido e sobreocupado, à escala do que é habitual num filme deste senhor.
correu ou não correu pelo seu pé até ao carro numa das cenas? aquela bengalita fora de cena... uma boina para a perna. fica-lhe bem.

não me entusiasmo naturalmente de modo detalhado, como muitos, com as evocações de gesta portuguesa, mas as explicações de um entusiasmado, normalmente, entusiasmam-me. não fui à procura de tese, nem sou particularmente sensível à questão da génese de colombo (ou colon). o nosso realizador recheou os diálogos com dados curiosos: outro zarco, a cuba de fidel e a nossa. o aval geral que a comunidade histórica dá ao livro que serviu de suporte aos dados do filme desconheço qual seja. pelo que testemunhou manoel de oliveira, a sua preocupação não era exibir uma produção de tese histórica, (que é o que também se diz, quando se quer dar recados, sem se ter paciência para despiques académicos) mas apenas a de rememorar os feitos dos descobrimentos. portugueses. a mulher alegórica que acompanhava as personagens pelos recantos: o espírito português? sublinhados: as filmagens com nevoeiro, o sol em sagres, a banda sonora. ao contrário d'o quinto império, por exemplo, com incideência igualmente histórica, aqui o sabor foi quase exclusivamente estético. deslizes para autobiografismos nos diálogos da segunda parte? puxões de orelhas a tutelas culturais? mesmo com algumas reservas em relação a pormenores de representação, não concebo deixar de materializar a minha curiosidade pela obra de um homem destes com a compra de um passaporte na bilheteira.

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domingo, janeiro 13, 2008

hoje só choveu deste meu lado. sendo domingo, tive todas as condições para embarcar rio acima.

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quarta-feira, janeiro 09, 2008


lembro-me perfeitamente do dia em que dei com o copo partido. a janela da cozinha aberta e a banca de cinzento escancarado. lembro-me de ter pensado que devia ter arrumado a louça há mais tempo e que se assim tivesse sido nada daquilo aconteceria, mas lembro-me de ter ido logo buscar a máquina em primeiro lugar, não, primeiro ri-me, depois contemplei, depois é que veio a culpa, depois a máquina. lembro-me de me ter cortado no dia seguinte, junto à entrada, num pedaço que a vassoura não conseguiu abranger por estar a varrer sem óculos ou sem lentes (o meu hábito protocolar de despir a cara para jantar e ver o resto do dia com o desfoque impressionista dos míopes). lembro-me de pensar que por vezes era bom partir e estilhaçar para poder espiolhar os fragmentos com detalhe: os gomos de vidro formavam galerias e subgalerias de fendas lindíssimas. lembro-me de achar que segurava células de vidro divididas e subdivididas a cálculo divino enquanto as apanhava aos pedaços. lembro-me de voltar a ter aquele pensamento de que o divino nunca se consegue deter assim em mãos, varrer e apanhar para arrumar, até porque aí nós é que somos copo, às vezes estilhaço. lembro-me de ter pensado que o fascínio é exactamente esse. íamos agora poder analisar os pedaços de tudo, de tudo do todo, do nosso todo e do dos outros, do mundo! a sede acabava num gole. as horas tornavam-se de uma saciedade insuportável. era o que faltava uma equação p'ró tudo!

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domingo, janeiro 06, 2008

moral breve
na porta do frigorífico, dividida em prateleiras e tampas transparentes, vê-se um nestlé de leite, dos grandes; no andar de baixo, três caixas de vacinas que o vizinho pediu para alojar, dada a avaria no seu electrodméstico homólogo. empresta-me um pouco do seu frio seria, no fundo, um pedido justo e sincero de se fazer. mas não. não o fez assim. mesmo sendo uma alma dada à poesia, não formulou assim a coisa. sinto falta de enunciações deste tipo, sem o adiar para a montra do papel. veio a empregada com as caixas na mão, depois do telefonema.
sendo termicamente frios, podemos ser socialmente calorosos.

quarta-feira, janeiro 02, 2008


maria teresa
modinhas dos últimos tempos. estas duas senhoras distrairam-me das obrigações matinais. a audição é exigente: reenquadrar o timbre do registo arriscado e saborear a poética de sempre. tal como suspeitava, não foi fácil.

a voz de Teresa Salgueiro está configurada pelos vincos - escrevo vincos com o maior dos apreços e uma grande admiração, com a idade do primeiro álbum - dos Madredeus; desdobrá-los para se redobrarem com o
redondo brasileiro parece-me, pelo menos para já, em processo de maturação. continuarei atenta.









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Teresa Salgueiro Chovendo na roseira rapinar>

De Maria de Medeiros chega uma voz limpa e doce, não com a doçura do lado de lá do Português. A sua articulação entre os elementos é sempre mais intermitente, os elos de ligação numa cadência sempre mais marcada, menos contínua. Alguém dirá que o interesse será mesmo esse, a diferença dentro da especificidade: posso entendê-lo racionalmente, mas o coração do meu ouvido ainda não adere plenamente. Fica o agrado com a voz, ressalvo. Embora por razões distintas, acabo por sentir o efeito Castro, aqueloutro de há uns anos, no TNSJ: o de ouvir uma voz única em palco, bela, que me parecia, apesar de tudo, regulada talvez para um outro contexto.



terça-feira, janeiro 01, 2008

fechar a porta de 2007 num acto protoilegal: restam três horas para poder fumar debaixo de telha, no mítico cão que fuma da rua do almada. compor um cadavre exquis entre o ananás e o bolo de chocolate:

Ruas batidas por duendes
verdes de fantasias medievais.
Diz-me a garrafa que a água das pedras
facilita a ginástica muscular.
Deverei acreditar em garrafas?
Esta é verde, parece-me pouco transparente.
Quer-me beber, mas acho que não deixo.
Noites de fogos fátuos
efervescentes pelos copos
servidos quentes a álcool
armazenado no rés-do-chão
da liberdade dos corpos
agastados com o desenontro.
No novo estrato registo
o para-além da dobra.
A dobra é de papel,
mas podia muito bem ser
um dos órgãos do fole de acórdeão,
os pulmões no centro da escrita.

(i & j)

virámos a página arrancada ao moleskine preto, pequenino.
continua o cadavre exquis do outro lado da página e há mais uma arrancada, desirmanada, apressada pela tirania do êxodo da meia noite. é preciso sair e marchar contra a multidão, porque atrás da câmara vê-se o fogo quase todo, que importam as cachoeiras? a igreja da trindade sempre tem um varão com escadinhas.

tomar banho com sabonete de sal, para abrir bem todos os poros a janeiro.
2008.


bom isto, bom aquilo, com tudo disto, com tudo daquilo