Etiquetas: Teometria
sábado, dezembro 27, 2008
tenho a impressão de que Eu sou Aquele que é, com todo o mistério de que este tipo de enunciação, despida e assertiva, é capaz, há-de ser sempre o meu pensamento de bolso. gradualmente mais inteligível. gradualmente mais longo.
quarta-feira, novembro 12, 2008
- não tem nada a ver com a questão signo e essência. ou melhor, tem e não tem.
- essa é uma questão que se coloca sempre. saibamo-lo ou não.
- claro, a indissociabilidade pensamento-linguagem. fatal e irreversível, já se sabe. mas a maior dificuldade em definir os momentos de felicidade profunda não tem que ver só com o modo como se diz, com o vestido das coisas. neste caso, que tento explicar-te, o problema reside na apresentação da questão em si e no seu motivo.
-achas que não levaria o motivo a sério, que o acharia ridículo?
- não, porque isso nunca poderia acontecer...
- não podia? como não, se ainda há pouco me olhavas de soslaio enquanto eu me ria da vizinha? é a mesma questão: a subjectividade da causa.
- certo, mas neste caso, nem por aí poderíamos conversar. é i-m-p-o-s-s-í-v-e-l!
- p-o-r-q-u-ê?
- não há.
- não há o quê?
- não há motivo para este momento de felicidade que te tento explicar. acordei assim e nada entre ontem e hoje ocorreu de diferente ou relevante.
- nada, quer dizer... nada de palpável, de cognoscível. decerto que algo terá acontecido.
- claro que sim, mas eu não faço ideia. é por isso que não te posso explicar.
- queres partilhar esse acesso de felicidade e não consegues. isso não a subtrai? não te faz um pouco menos feliz, por ser algo tão solipso?
- não subtrai em nada. mas tenho pena de não conseguir distribuir ou canalizar para o outro. terei de aprender os segredos do contágio. aqui a partilha tem de ser como a gripe: assaltar-te com bactérias invisíveis.
- vem para junto de mim, então.
Etiquetas: Teometria
sexta-feira, outubro 17, 2008
em branco


subi o estore, logo pela manhã, a acordar gratidões ensonadas, ainda com um pé na fronteira do sono. justamente quando pensava nesta questão, da energia íntima ao despertar para o turno de horas em que respiramos de olhos abertos, reparei no rasto atmosférico deixado por um avião, que sulcava o azul, deixando atrás de si o efeito de uma linha. não deixes a linha em branco. escreve-te na manhã. escreve-te no dia. os pensamentos são vozes sem impacto acústico (ou com, mas isso será outra conversa). este, não sei bem donde me veio. que importa, porém?alguns ditames são bem-vindos.
Etiquetas: Teometria
quinta-feira, maio 15, 2008
à pergunta pelos sinais do divino, por marcas evidenciadoras do Demiurgo, respondia muitas vezes com o corpo, com os corpos da natureza sobre a terra. para alguns inquisidores da fogueira invertida, a chama que não concebe a heresia de se acreditar em tais coisas nos dias que correm, esse argumento era contraproducente: achavam-no clara e demasiadamente profano.
Etiquetas: Teometria
quarta-feira, janeiro 09, 2008

lembro-me perfeitamente do dia em que dei com o copo partido. a janela da cozinha aberta e a banca de cinzento escancarado. lembro-me de ter pensado que devia ter arrumado a louça há mais tempo e que se assim tivesse sido nada daquilo aconteceria, mas lembro-me de ter ido logo buscar a máquina em primeiro lugar, não, primeiro ri-me, depois contemplei, depois é que veio a culpa, depois a máquina. lembro-me de me ter cortado no dia seguinte, junto à entrada, num pedaço que a vassoura não conseguiu abranger por estar a varrer sem óculos ou sem lentes (o meu hábito protocolar de despir a cara para jantar e ver o resto do dia com o desfoque impressionista dos míopes). lembro-me de pensar que por vezes era bom partir e estilhaçar para poder espiolhar os fragmentos com detalhe: os gomos de vidro formavam galerias e subgalerias de fendas lindíssimas. lembro-me de achar que segurava células de vidro divididas e subdivididas a cálculo divino enquanto as apanhava aos pedaços. lembro-me de voltar a ter aquele pensamento de que o divino nunca se consegue deter assim em mãos, varrer e apanhar para arrumar, até porque aí nós é que somos copo, às vezes estilhaço. lembro-me de ter pensado que o fascínio é exactamente esse. íamos agora poder analisar os pedaços de tudo, de tudo do todo, do nosso todo e do dos outros, do mundo! a sede acabava num gole. as horas tornavam-se de uma saciedade insuportável. era o que faltava uma equação p'ró tudo!
Etiquetas: Teometria
sábado, junho 09, 2007
teometria
enquanto lavava a cabeça, a ideia dissolveu-se no amaciador e escorregou-me pelo cabelo. pude sentir muito bem o espaço que a nuca ocupava no espaço e a textura do couro cabeludo na polpa dos dedos, como se formasse um segmento com as duas mãos para medir qualquer coisa. se Deus fosse linearmente apreensível, seria assim, delimitado e delimitável, uma nuca com cabelo, da qual se assegura a manutenção higiénica, sustentável por duas mãos. entender tudo era uma pena, era higiene e manutenção. vamos lá achar piada à dimensão ilimitada da dúvida e aceitar a pequenez da mente.
e como está calor, seca tudo ao natural. vou agora ligar o secador e acordar os vizinhos...
Etiquetas: Teometria
domingo, maio 27, 2007
o reconhecimento
hoje, lia salteadamente a Bíblia e ancorei nesta passagem, que me reacendeu uma questão de sempre. um mote provocatório.

hoje, lia salteadamente a Bíblia e ancorei nesta passagem, que me reacendeu uma questão de sempre. um mote provocatório.
Um rei reinará de acordo com a justiça,
os seus príncipes governarão de acordo com o direito.
isaías - 32,1

percebe-se uma diferença, uma hierarquia entre justiça e direito, tal como rei e príncipe são nivelados. o direito será uma compilação descriminada de artigos ditados pela justiça, o que equivale a dizer ditados pelo rei; ou ditados superiormente ao rei, mas enunciados e geridos por ele. que rei poderá ter uma relação de identidade fusional com a justiça? acabo sempre por desembocar em Deus, porém o que está em causa é o plano terreno; teria de pensar numa presença humana mediadora, ainda que superiormente inspirada, com uma centelha divina na nascente do discernimento e, ainda assim, coloca-se o problema do reconhecimento de legitimidade, da reverência funcional, da evidência do sistema.
o problema do critério em nome do qual o primeiro rei foi rei.
Etiquetas: Teometria
quinta-feira, maio 24, 2007
a dúvida escama. a dúvida esculpe. a dúvida escama. a dúvida esculpe.
escrevia no vidro da janela.
escrevia no vidro da janela.
Etiquetas: Teometria
sábado, maio 12, 2007
can . eeiro
.
.
d
pen er,
como o candeeiro:
ver o tudo de tudo,
do tecto de tudo,
mas
não posso.
já me disse que
não posso.
porque é que insisto?
como o candeeiro:
ver o tudo de tudo,
do tecto de tudo,
mas
não posso.
já me disse que
não posso.
porque é que insisto?
Etiquetas: Teometria