Lynchada
há mais de um ano que não ia ao cidade do porto ver um filme. a tarde de hoje também foi condimentada pela revisitação. antes de apagarem as luzes, ao ver as cadeiras pretas da plateia, lembrei-me daquele azul espesso do defunto nun'álvares e senti a melancolia sentar-se no assento do lado. passou; vir ao Porto tem destas coisas. por outro lado, foram várias as vezes em que ao ver INLAND EMPIRE, do senhor David Lynch, que tive de sufocar o riso. o meu espírito teve o capricho de despertar nos momentos em que mais ninguém se ria. a sintonização humorística de hoje estava ácida, daí o aparente despropósito; não me ri com a loco-motion, ao contrário do resto do público - OST procura-se - e chorei, literalmente, a rir com a filmagem da morte, entre a conversa da africana e da chinesa. talvez o meu irmão compreenda este facto. se já tiver visto o filme, terei de começar a preparar a minha explicação, porque me vai massacrar com a chave. tenho até domingo para não pensar muito. há microestruturas de sentido, e mesmo esse é poliforme, creio. pode ser que haja um fio de leitura mais abrangente: penso, por exemplo, no paralelo entre a primeira tentativa de adaptação do romance polaco, no passado, e a tentativa do remake a que assistimos, em todas as consequências que daí decorrem para a chegada de luz à personagem incial que fita a TV em lágrimas e no tal pagamento ou ajuste daquela conta; o sucesso e a finalização do remake presente saldam o falhanço e o negrume mísitico que tolda o anterior? é melhor não continuar... foi apenas um exercício de preparação para a resposta a dar ao meu irmão no almoço pascoal. não vou ingressar no sindicato hermenêutico-lynchiano que já profetizo e que se costuma criar nos dias após a audiovisão dos seus filmes. é conhecer o maestro, as personagens e as suas funções tipológicas, oníricas e mediúnicas, a necessidade de recolha de dados com atenção, dada a suspeita de que sejam recuperados em metamorfose, eco, analogia, analepse ou outra. vier sieben... vão voltar a falar disto, vão voltar a falar disto... e lá aparece a porta 47 . é a porta que encerra os coelhos, um dos motes do riso abafado, logo no início, não pelo insólito em si, mas por me lembrar da Paula Rego, o que, pensando bem no mago, faz sentido de um modo curioso. o jeremy irons como realizador e eu a lembrar-me do missionário de flautinha entre os índios... nunca vi um filme destes com os olhos húmidos de riso (e repito que não é uma ridicularização), mas folgo em aproveitar esta minha lua non sensical até chegar ao quarto minguante da intransigência pesarosa. vou espreitar o Ípsilon de hoje para ver o que reza do filme.
[entre uma biblioteca que ajudei a arrumar, encontrei uma velha edição da portugália do livro "Cavalgada do sonho", de João Quintinha. gostei tanto do desenho da capa, que pedi um empréstimo para digitalizar. a pressa de a postar e a sintonia onírica com o filme visto atiraram-na para este post]
Etiquetas: lanterna mágica
3 Comments:
andaremos então pelos mesmos lugares....:)
Obrigado pelo Bernardo Marques.
Antónimo
de nada.
Sinónimo
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