pouca Terra
conta-se que para quebrar o tédio do ritual de espera pelo comboio, havia um par de bailarinos que dançavam uma espécie de tango, em plena linha. a indumentária tinha o logotipo da companhia ferroviária, mas o corte dos tecidos assentava nos corpos com volúpia, nada do despojamento das fardas de funcionário que hoje vemos nas bilheteiras. a música vinha dos altifalantes; abafavam os avisos sobre horários e destinos dos comboios que, na realidade, eram escassos, e berravam para o ar como uma grafonola antiga. dizem as más línguas que já na altura se ouviam pedaços de som parecidos com Gotan Project. os conservadores rebatem isto, mas não conseguem provar o contrário. a dança acabava a escassos metros da chegada do comboio: os bailarinos paravam no momento em que o vórtice de ar da locomotiva levantava a saia da mulher e despenteava o cabelo do homem. o par separava-se, saltando da linha para as plataformas de cais, opostas, que o comboio em rápidos segundos passava a permear. os mais românticos contam que os passageiros protestavam porque não havia beijo final: os ânimos quase a ter um ataque por ver a proximidade do comboio e.... nada! apenas coxas ao léu e cabelo no ar por uns segundos! não havia direito! os mais conceptuais sublinhavam que o tango era mesmo assim: tangências que se furtam, consumações por acontecer.
3 Comments:
tanga-se
como
se vive
ou...
antes pelo contrário?
levei uma coisinha daqui pró meu sítio...
Conta-se que o nome tango veio exactamente da tanga de haver pernas a cruzar, olhares a tanger, rosas vermelhas e corpos que se tocam sem beijo final!
Conta-se que os passageiros, fartos da tanga, decidiram chamar-lhe tango, porque estavam no comboio à espera de um beijo. Tudo masculino... dançam no masculino...
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