é da minha memória
hoje, ao vestir os collants, encontrei um pêlo do meu gato. é tal a aderência da textura das meias que a peça não escapou ao contacto com o ínfimo elemento que andava pelo quarto. o meu sobrinho pensa muitas vezes em telefonar ao bicho, embora saiba que ele talvez não possa atender, por estar a dormir nas estrelas.
não sei bem como explicar como tem sido a minha relação com a saudade, pensando agora em termos mais abstractos e transversais. há ausências que me pesam sem que apareçam sob o signo da perda, ou seja, a própria memória já se insinua como posse, uma reserva valiosa e íntima de algo.
em conversa com um amigo sobre o ter, conheci uma perspectiva curiosa: tratava-se da defesa de que a detenção absoluta, que legitime considerar é meu, pode ser ultrapassada pela simples possibilidade de se admirar o objecto de posse, ou pelo facto de este ser pensável sempre que o queiramos. ouvi com desconfiança e não sou subscritora integral, mas tenho pensado no assunto. à medida que a questão se vai arrumando, vai conquistando mais espaço em mim.
vou continuar a pensar na matéria.
até logo.
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