domingo, outubro 31, 2010

fragmento de uma entrevista sem particular relevância

Admitiu que era um espírito que acabava por se furtar ao compromisso amoroso, porque temia os desvios do percurso individual. De um modo mais concreto: refere-se à tendência para a infidelidade?
Nada disso. É uma pena e uma sincera probreza que não se consigam perspectivar as respostas a não ser de acordo com essa chave de leitura. Referia-me às mutações de projectos e da própria relação do indivíduo com a realidade, em sentido muito amplo, não estritamente sexual. Há espíritos que delineiam um percurso para si desde muito cedo e que vivem na constância, sem grandes alterações, a não ser aquelas que o caminho fatalmente lhes impõe, temendo reformulações de percurso e olhando-as com desconfiança, como um sinal de desnorte ou dispersão desnecessária; quem, muito pelo contrário, não vive assim e procura antes exploração (sem que se considere aqui a intimidade) contínua da diversidade do real, de forma a que tudo complemente tudo, tende a recear o laço da conjugalidade, ou, pelo menos, de uma conjugalidade que não contemple itinerância e abertura a trajectos secundários, dentro de um mesmo caminho, unívoco e central.
E qual é esse caminho "unívoco e central"?
Penso que tem a noção de que me questiona-me sobre o meu grande propósito de vida com essa pergunta...
Não quer responder?
Ando a tentar chegar a uma resposta perante mim mesmo. Sei que tem que ver com a incondicionalidade do amor e, de alguma forma, com a imaginação, mas para conseguir torná-lo mais claro, terei de continuar o trajecto retalhado a que me referi. E com isto talvez lhe responda melhor à primeira pergunta.