quinta-feira, maio 28, 2009

carlsberg
há dias em que poucos pormenores conseguirão ultrapassar o beber de um fino ao fim da tarde. mesmo sem calor. logo ao primeiro gole, dá-se a dissolução do pó levantado pelo dia, que se vai retirando da hora de luz. o leve torpor em que cai o corpo, também ele em levedura, como a cerveja, instala a intersecção perfeita entre a conversa com o outro por que esperámos e um qualquer recanto no íntimo, onde ecoam as reflexões antes do jantar. bifurca-se a presença. se o gesto não se banalizar em tragos rotineiros repetidos. quando o copo, cone invertido, jorra no minuto justo.
[gole é um termo que me dá vontade de rir! mas o sorver desta circunstância tinha mesmo de vir vestido de gole.]

segunda-feira, maio 25, 2009

sábado, maio 23, 2009

a analepse olfactiva é um mecanismo tremendo... fui contra um perfume de infância que subia a rua da constituição, enquanto eu e o meu nariz a descíamos, e estou em estado de arqueologia fotográfica há umas horas. o que vale é que não sei quem vai arrumar isto tudo!

segunda-feira, maio 18, 2009

hoje, ao dependurar as toalhas de banho, uma reflexão súbita e inesperada sobre a não culpabilização. nos últimos tempos, é isto: estou eu compenetrada a despachar uma tarefa, para poder trabalhar, quando me surge um tópico, fulminante e monopolizador, distraindo-me o resto da manhã com o entusiasmo de uma ideia encontrada. não tendo, contudo, contexto para postar, a gerência desculpa-se. melhor se há-de explicar.

domingo, maio 17, 2009

caído na minha caixa de correio, de autoria incerta.

sexta-feira, maio 15, 2009

e agora sei que oiço as coisas devagar

Evocação e Escuta de Daniel Faria - http://eagorasei.blogspot.com

quarta-feira, maio 13, 2009

terça-feira, maio 12, 2009

o tópico da janela sempre me foi caro. lembrei-me de que já por aqui tinha escrito qualquer coisa. fiz uma pesquisa e resgatei estas linhinhas dos tempos em que vivi em lisboa. eu sei que bastava linkar, mas apeteceu-me duplicar o post. tenho saudades dessa janela. cá vai:
Quarta-feira, Junho 13, 2007

já percebi que eu e o vizinho da frente escolhemos a mesma hora para fumar um cigarro à janela. do meu lado, é a da cozinha. a essa altura do dia já estou sem lentes e nesse momento concreto não admito presenças de corpos de óculos na cara. percebo apenas uma presença que está de manga caviada, mas não lhe conheço o rosto. sei que há ali uma combustão e a singularidade do rosto do homem mistura-se com a percepção que tenho do fumo. são uns cinco minutos de recolhimento, em que uma definição corporal humana nítida seria muito intrusiva. na rua, não o identifico. teriam os impressionistas buscado aquela inspiração de enevoado colorido nalgum grau de miopia? separa-nos a rua, mas o lampião que ilumina aquela fatia de passeio é comum. o topo da lâmpada, com uma cobertura metálica, é a plataforma de eleição dos pombos para os seus rituais de acasalamento.

segunda-feira, maio 11, 2009

a janela, como tópico por si só, e a janela concretamente considerada. caeiro pelos lábios do luís miguel cintra. o pormenor do pé em ponta, num dos abraços de despedida entre luísa e macário, pela candura do erotismo à século XIX. a fala da harpa, as cordas da harpa. a austeridade descongelada do tio francisco. desculpe-me, manoel, só me custou um pouco a elocução inicial, quer de macário, quer da confidente desconhecida - leonor silveira. no início, aquela fluidez era de leitura ou recitação, não tanto de conversa casual.


sexta-feira, maio 08, 2009

a estagiar antes de ir ver o último manoel: reler o conto do eça.

terça-feira, maio 05, 2009

ele pela-se por
não consigo enunciar sem dar uma gargalhada: pelar-se por. ele pela-se por ela, ela pela-se por aquilo, eles pelam-se por acoloutro. há uns minutos atrás, num contexto que não importa explicar, depois da gargalhada habitual, creio ter reflectido pela primeira vez no verbo. entre outras interpretações da espessura semântica de pelar-se (a rir de novo), uma que me visitou lembrou-me disto: um grande amor, quando aporta, quando se dá a transição do estado de a-enamoramento para enamoramento, vem escamar o eu anterior. outra a pele. outro o espírito. porém, mesmo no estado contrário ao gostar muito, sentido que o verbo traduz, o mesmo cenário se coloca. para o vector simétrico, a transição de enamoramento para a-enamoramento, nova pele. novo espírito.

domingo, maio 03, 2009

lugar dos lugares
é o nimas. o meu favorito é o nimas. aquela penumbra. aqueles sofás. aquela luz fosca. contudo, por motivos de pura naturalidade portuense, ali na ordem da trindade, todo o processo de crescimento e construção da memória mais tenra do ritual de ir ao cinema só é cabal no porto. desde a ida à branca de neve, no natal, com o meu pai e os meus irmãos, no fóssil águia d'ouro, até aos clássicos beijos no escuro, mãos dadas e cabeças encostadas do correr da idade pelos outros defuntos da cidade e shoppings. e disso não reza o nimas, onde passei sempre como um fuzil. não sei porque penso nisto. nenhuma melancolia concreta me assalta em relação ao passado. nenhuma vontade precisa para este presente. vou é tentar escrever sobre a cabeça encostada. sobre o beijo já houve muito quem.