segunda-feira, março 30, 2009
mas ainda não vem neste post o comentário ao concerto. deste lado há muito que fazer. mais logo. depois.
domingo, março 29, 2009
sexta-feira, março 27, 2009
quarta-feira, março 25, 2009
terça-feira, março 24, 2009
sábado, março 21, 2009
a corte do norte
a atmosfera visual conseguida por joão botelho ao longo de todo o filme, quer no recorte natural das falésias, quer nos detalhes cénicos, quer na preocupação plástica com a orientação das personagens, dispostas numa autêntica arrumação pictórica, terá sido o que absorvi com maior desvelo. não deixem o filme sair do cartaz, porque é realmente numa tela que faz sentido que seja visto.
sobre o texto agustiniano, é-me difícil falar. queria sublinhar quão bem senti as sucessivas gerações familiares articuladas. estava com saudades de um encaixe narrativo assim. sei que é impossível ficar imune à acuidade com que a escritora traz o lado perverso e fraco da condição humana à superfície. reconheço que é notável, mas exactamente por haver tanto rigor e expressividade no recorte da dimensão, digamos, oxidada das almas é que, creio eu, se faz sentir a necessidade de um contraponto, de uma transcendência ou indício de transcendência do trágico. não é a finais felizes envernizados que me refiro. penso apenas na sugestão de caminhos para a superação. num esboço de regeneração do que parece perdido. temos a lição da maldade bem sabida no íntimo, e naturalmente que tem de haver espíritos que ousem e saibam radiografar o negrume, porém, se só pelo negrume se fica, ao invés de nos conseguirmos iluminar em relação à nossa mais profunda condição, também nós escurecemos. soçobramos de azedume.
não quero alimentar esta operação, achando-me no direito de estar na poltrona e apontar o que falta e o que poderia ser a obra de outrem. que isto seja tomado como a simples impressão de quem não pode esconder que saiu da sala com água no coração*. e daqui me vou imediatamente, que são horas de dormir ->
* acho que foi com o garcía márquez que aprendi esta, mas a memória atraiçoa-me, perdão pela falta de rigor... scriptor volat, verba manent!
sexta-feira, março 20, 2009
quarta-feira, março 18, 2009
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não sei precisar desde quando começou a ser assim. é fenóneno mais ou menos recente, mas suficientemente regular para o notar como nova instalação em mim. algumas formulações simples, quase proverbiais, muitas vezes, atingem o caroço da minha atenção e confrontam-me com a evidência da simplicidade. podem causar arrepios, endireitar a coluna, despoletar um sorriso, que visto poderia assumir traços de pateta (mais ou menos como o do início da paixão, mas desancorado de qualquer objecto, neste caso). cachos de certos raciocínios sabem-me a uvas amargas e artificiais. cansam-me. não os quero dentro de mim. não é fácil dar testemunho do simples, desde logo, porque a explicação demonstradora vai corromper a essência do que se quer transmitir; isso pode instaurar momentos de silêncio prolongados, que nada têm que ver com introversão ou angústia, será apenas ausência de estímulo para explicar. é o tempo em que a prática do contágio e da sugestão devem ser chamadas a desempenhar os seus papéis.
segunda-feira, março 16, 2009
sábado, março 14, 2009
próxima estação: -
andar de metro pode tornar-se numa operação altamente metafísica. a rotina e mecanicidade do processo, unívoco e previsível no seu curso, apela a olhar para trilhos do íntimo. apesar da abstracção da carruagem e da concretude do contexto, a consciência e percepção da locomoção estão sempre presentes. as paragens da viagem interior estão sincronizadas com as paragens da rota da máquina; o movimento desta última torna-se um motor expansor, uma força circulatória de ideia. em dias privilegiados, o íntimo pára em estações que dão acesso a recantos interiores insondáveis pela vontade do mero comando mental. é o eu, sem que o seja, contudo. é uma raiz do eu que não tem o nosso nome, mas que sabemos nossa. chegando aí, assalta-nos um sorriso análogo aos primeiros dias de uma paixão, mas o afecto recai sobre o tempo, sobre o espaço, sobre a luz, sobre a árvore, sobre todos os transeuntes e edifícios da cidade. e nem sempre o impacto de uma boa notícia rivalizará em alegria com esta sensação.
quinta-feira, março 12, 2009
a parte mais
há sempre um fragmento de corpo dominante. será através dele que o outro se torna especialmente definível. ou mais rosto e linhas da cabeça. ou mais cabelo e volume. ou mais olhar e expressão. ou mais tronco e porte. ou mais pernas e movimento. ou mais voz e envolvimento. ou mais mãos e demonstração. qualquer que seja o traço. o ponto pregnante que nos devolve a imagem de alguém é sempre em ângulo primeiro e privilegiado que nos revisita, durante o processo de evocação. este desencadeia-se porque sim, ou por inclemência da saudade, por exemplo. e no momento da rememoração, o que fica no crivo da memória é sempre a imagem mais bela que alguma vez vimos. é possível chegar ao arrepio e à contracção dos ombros com a comoção.
terça-feira, março 10, 2009
ao fazer o caminho para sair do jardim botânico, pude sentir os prenúncios da primavera nas costas. aqueles feixes de sol a aquecerem os músculos entre as omoplatas e a coluna.
sábado, março 07, 2009
chegadas
tia.
tia.
tia: pela terceira vez :)
sem que em nada tivesse contribuído para a causa, de súbito, sou mais qualquer coisa. penso nesta questão a fundo: a chegada de pessoas até mim, com toda a extensão, desde a mais à menos familiar. reparo que nada de muito concreto fiz para que algumas vindas me tornassem mais qualquer coisa. limitei-me a respirar, e as pessoas foram chegando. ninguém escapa de estar à mercê do incalculável, seja qual for o curso que queiramos dar às situações. a chegada, quando bate à porta, chegou. somos apenas a mão do outro lado da maçaneta, o olho atrás do olho de vidro. houve um tempo em que me assustei com o estar à mercê. agora não.
sexta-feira, março 06, 2009
matemática de wc - contém; não contém; está contido
no ciclo preparatório, constavam do programa de matemática noções de inlcusão e intersecção de conjuntos. uma espécie de c's: normais, invertidos ou cruzados. lembram-se? esta semana, os símbolos matemáticos entravam-me pela casa-de-banho, num dia em que os fios de água do chuveiro eram esguichados para a banheira, a par do barulho da água do jarro eléctrico a entrar em ebulição e da chuvada a fustigar os vidros - e agora que escrevo, ouço o barulho da água da máquina de lavar a louça, sem competição de outras modalidades aquosas, contudo. tentei estabelecer relações entre os sons, procurando apurar qual seria o dominante que continha e quais seriam os contidos, ora numa perspectiva acústica de intensidade ora numa de lógica espacial, de fora para dentro da casa, de dentro para fora...
longe de entender porque escrevo tudo isto, bebo um copo de chá e fico-me com a linha de calor na garganta e no peito. sem som. apenas com temperatura.