quarta-feira, fevereiro 20, 2008

estendal
desci o pequeno estendal interior do tecto da marquise para dependurar a minha toalha de banho. nas traves de plástico paralelas, caíam as dos meus pais, em dobra. pude sentir o cheiro delas: apesar de o meu nariz perceber uma base comum, por ser comum o amaciador com que são lavadas, não deixou de se sentir um odor conjugado, modelado pela identidade do corpo que vem impregnar a toalha de modo específico. singular. não sei muito bem se cheguei a querer tirar alguma conclusão com isto. não percebo, aliás, por que é a percepção desta diferença, óbvia, sabida, me deixou a pensar para além do pequeno almoço. creio que é a percepção do outro como não-eu, massa específica, lugar a perceber, irradiador de sentido, que me absorve sempre com mais intensidade. se é pelo outro, se é pelo eu, por diferenciação, ou se é por ambos não sei com certeza. sei que o tocar na singularidade alheia, mesmo que com o nariz, como foi o caso, é sempre tarefa em que me vejo demorada. voluntariamente. involuntariamente.

4 Comments:

Blogger Unknown said...

Tive de lhe roubar este texto e postar no meu.

21 fevereiro, 2008 11:14  
Blogger icendul said...

a gerência folga em saber e isenta-o de imposto!

21 fevereiro, 2008 22:56  
Blogger Lis said...

Há aromas, impressões que fazem memórias e possibilitam descobertas. Do outro e sobre nós.

26 fevereiro, 2008 19:41  
Blogger lupuscanissignatus said...

De facto...

De fato...

De olfacto...

De afecto...



Efectivamente, um post com uma roupagem singular :)

29 fevereiro, 2008 21:48  

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