domingo, setembro 30, 2007

a medida do sol

o poder aconchegante da noite é incomparável, furto-me ao fabrico de imagens. porém, também nada se compara à sensação de vigor que atravessa uma manhã que comece com os galos, se o embalo da noite for bem aproveitado. apetece-me sentir bem a extensão do sol, porque ultimamente dou por mim a medir o tempo à quinzena e não gosto disso.
Caminho: em cima, em baixo, um e o mesmo.
*
Não é possível entrar duas vezes no mesmo rio.
Heraclito

terça-feira, setembro 25, 2007


Sam Beam: os dedos de Iron & Wine, aqui

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domingo, setembro 23, 2007

Iron & Wine
In the Reins

brindada por uma virose em dominó familiar, que me obrigou a uma manutenção corporal horizontal nestes últimos dias, hoje, ainda em reestabelecimento da força física, celebrei a verticalidade e a força vertebral. bastam uns centímetros de febre dilatados no termómetro para avaliarmos o milagre da marcha normal, do timbre vocal límpido e não enrouquecido pela fraqueza, da operacionalidade da visão, do ginásio do sistema digestivo. tomar banho em convalescença é sempre um confronto excepcional com o corpo: pensar a vitalidade dos órgãos, como se os abrangesse por inteiro com o chuveiro; limpezas biomotivadas, limpezas automotivadas, é sempre impressionante o paralelo maquinal. o corpo, com todos os seus fluxos e refluxos é-me um dos selos mais marcantes do divino. vou deixar que seja sempre assim, tentar não esquecer os períodos de maior abatimento físico, durante o banho rotineiro para lembrar sempre a preciosidade do seu pulsar vital. sempre. sempre. sempre. o que tem I & W, acima recortado, a ver com tudo isto? fez parte da banda sonora do processo de limpeza visceral dos últimos dias - asseguro, porém, que foi um vírus importado, nada teve a ver com receitas ou experiências culinárias aqui anunciadas... - a vulnerabilidade do repouso na cama tem a vantagem de disponibizar os poros para uma recepção estética rendida, sem hora marcada.


sábado, setembro 15, 2007

herança que quero desempoeirar. herdei-o da minha tia-avô, a linha geracional certa para revelar os arcanos culinários. está instalada a guerra civil na minha cozinha, mas a partir de agora, documentarei todos os meus métodos aos olhares de descrédito.

quarta-feira, setembro 12, 2007

um telhado para a secretária
sempre achei temível a circunstância de ter de trabalhar muito tempo em casa, talvez por fazer uma associação imediata com o que é estudar em casa. é diferente, porém. para estudar é preciso vestir uma espécie de cinta que nos permita acomodar interiormente o que absorvemos. podemos andar de um lado para ou outro, fazer pinos furiosos contra as paredes, podemo-nos despir, mas da cinta não nos livramos. há um qualquer coisa que tem de fazer parte momentânea de nós e é bom que seja arrumado, nem que seja por uma véspera. ao trabalhar, uma vez que o expelir do esforço e da focagem do dia está a ser executado e materializado, o sangue circula doutro modo. os autocolantes de infância colados nos armários inspiram, a cama seduz, mas pode servir de objectivo cronometrado: quando chegar àquele ponto, deito dez minutos de recompensa. a tela da cidade e os passos dos outros fazem falta intermitente, mas quando chegar àquele ponto, vou caminhar até...

domingo, setembro 09, 2007

jimi hendrix, castles made of sand

rapinar>

sábado, setembro 08, 2007

fim-de-semana de escavação até às matrizes: leituras matriz, audições matriz (aqui ao lado ilustrada), audiovisões matriz. sempre que os tempos me pedem um recomeçar do início e desenham um novo ciclo, dou comigo a recontacatar com matrizes.

gastronómicas também. é claro que só vou comer o feijão e o arroz, as tripas ficam para os restantantes comensais.

quinta-feira, setembro 06, 2007



bacyllus timoratus

os 17 anos (ou 18? andava na terceira ou na quarta classe quando a minha irmã o trouxe? já ninguém sabe ao certo...) do meu gato começaram a cobrar algumas facturas ao bicho, desde que o calor se fez sentir mais. não há doença no carimbo, são os rins e o coração de um gatinho com idade. com este calor, menina... mas ele arrebita. julgo que sim. há dois anos aconteceu o mesmo. para já, dorme numa almofada de que se apropriou, abaixo do armário fotografado. entristece-me, não me surpreende que lhe custe a suportar o calor.
se aqui vim foi pelo que se passou no veterinário, reproduzível em qualqer cenário: com ou sem pêlo. quem tivesse visto o gato prostrado, de olhar mortiço, com o focinho rombo, a cambalear quando se tentava levantar, sentiria o contraste à entrada para a consulta: recuperou o olhar atento, o porte de felino vigoroso, pronto a atacar. o medo é um motor que não é do nosso tamanho, é uma potência elevada a nós mais qualquer coisa, ao mais infinito da nossa encenação interna. neste caso, demito-me de digressões sobre a imaginação de um gato, sendo, no entanto, óbvio que estava tomado pelo medo daquele espaço vestido de bata verde e de húmus de inox desinfectado. apesar da falta de forças, não parou de rosnar - trata-se de um gato, mas este rosna, é o verbo mais fiel - animado pelo arrepio de ali estar. o medo é um motor. naquele instante, em que a veterinária o auscultava, sob rosnares e tentativas de arranhadela, com uma luva quase de falcão, lembrei-me, por oposição, de contrastes de estados movidos pelo amor, que oxigenava outras coragens e operava outras metamorfoses. cheguei a não ouvir completamente como dosear a medicação a ser feita. porque o medo é um motor. de repente, não me conformava com o facto de que o medo pudesse ser um motor. já o sabia. quem não sabe? quem nunca lhe fez reverência? mas aquele olhar felino espelhava a vibração do temor em bruto, de modo visceral, era um recorte faiscante de agressividade no focinho. procurei dentro de mim momentos em que o medo tivesse sido um motor, enquanto continuava a olhar o ar assustado, mas pujante do animal. o medo é um motor. não queria. não gostava de encontrar momentos de metamorfose por causa do medo. não queria. não quero que o medo seja um motor. desculpe, o que dizia sobre este comprimido amarelo? toma meio por dia? posso misturar com comida?
exacto, vou escrever aqui. não deixe esta carteirinha acabar, venha cá buscar outra durante a próxima semana. vai ver que logo à noite ele já arrebitou. obrigada por avisar. chegam aqui donos com autênticas feras e não dizem nada, andam os bichos por aqui aos pinotes...
a luva de falcão era bonita. a veterinária foi arrumá-la a um canto e fechou a porta.

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quarta-feira, setembro 05, 2007

um dijuntivo e um copulativo encontram-se no deserto

- o que quer fazer com essa pá que tem na mão: escavar ou tapar um buraco?

- ao escavar pode-se sempre encontrar um tesouro que venha tapar um buraco.