quinta-feira, setembro 06, 2007



bacyllus timoratus

os 17 anos (ou 18? andava na terceira ou na quarta classe quando a minha irmã o trouxe? já ninguém sabe ao certo...) do meu gato começaram a cobrar algumas facturas ao bicho, desde que o calor se fez sentir mais. não há doença no carimbo, são os rins e o coração de um gatinho com idade. com este calor, menina... mas ele arrebita. julgo que sim. há dois anos aconteceu o mesmo. para já, dorme numa almofada de que se apropriou, abaixo do armário fotografado. entristece-me, não me surpreende que lhe custe a suportar o calor.
se aqui vim foi pelo que se passou no veterinário, reproduzível em qualqer cenário: com ou sem pêlo. quem tivesse visto o gato prostrado, de olhar mortiço, com o focinho rombo, a cambalear quando se tentava levantar, sentiria o contraste à entrada para a consulta: recuperou o olhar atento, o porte de felino vigoroso, pronto a atacar. o medo é um motor que não é do nosso tamanho, é uma potência elevada a nós mais qualquer coisa, ao mais infinito da nossa encenação interna. neste caso, demito-me de digressões sobre a imaginação de um gato, sendo, no entanto, óbvio que estava tomado pelo medo daquele espaço vestido de bata verde e de húmus de inox desinfectado. apesar da falta de forças, não parou de rosnar - trata-se de um gato, mas este rosna, é o verbo mais fiel - animado pelo arrepio de ali estar. o medo é um motor. naquele instante, em que a veterinária o auscultava, sob rosnares e tentativas de arranhadela, com uma luva quase de falcão, lembrei-me, por oposição, de contrastes de estados movidos pelo amor, que oxigenava outras coragens e operava outras metamorfoses. cheguei a não ouvir completamente como dosear a medicação a ser feita. porque o medo é um motor. de repente, não me conformava com o facto de que o medo pudesse ser um motor. já o sabia. quem não sabe? quem nunca lhe fez reverência? mas aquele olhar felino espelhava a vibração do temor em bruto, de modo visceral, era um recorte faiscante de agressividade no focinho. procurei dentro de mim momentos em que o medo tivesse sido um motor, enquanto continuava a olhar o ar assustado, mas pujante do animal. o medo é um motor. não queria. não gostava de encontrar momentos de metamorfose por causa do medo. não queria. não quero que o medo seja um motor. desculpe, o que dizia sobre este comprimido amarelo? toma meio por dia? posso misturar com comida?
exacto, vou escrever aqui. não deixe esta carteirinha acabar, venha cá buscar outra durante a próxima semana. vai ver que logo à noite ele já arrebitou. obrigada por avisar. chegam aqui donos com autênticas feras e não dizem nada, andam os bichos por aqui aos pinotes...
a luva de falcão era bonita. a veterinária foi arrumá-la a um canto e fechou a porta.

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7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

é o que eu digo: tu podias ser cronista de jornal;) está bem visto, sim senhores;)
e os animais "irracionais" acabam por dizer muito sobre os "racionais"
O medo como exclusivo motor parece-me sempre uma estratégia defensiva... mas repara que quase todas as nossas acções são motivadas um pouco pelo medo. quando eu venho para o trabalho e me apetecia antes entrar num carro e seguir viagem, eu venho por sentido de responsabilidade, mas tb por medo de ser despedido. And so on;)
A sorte é que o motor humano tem muitás válvulas e o combustível é uma subjectiva mistura de coisas
Ciao!

06 setembro, 2007 18:40  
Anonymous Anónimo said...

Ainda bem q o Miko vai ficar bem!
Mas conhecendo a dona do Miko,sei q ele tb pertence à "gens" lutadora!

(Adorei o tópico Dantiano!!!)

Tlvz o medo seja isso ou mais profundo ou apenas nada!
*

P.S - Os últimos textos têm tidouma inegável qualidade!
(cmo sempre,cmo sempre!)

06 setembro, 2007 20:31  
Blogger E. A. said...

http://ask-im.blogspot.com/2007/09/os-medos.html


Ontem o bacillus timoratus criou coincidências blogosféricas. Aliás, ele é muito criador. E está sempre aí, pronto.

07 setembro, 2007 12:06  
Blogger icendul said...

pb: passar-me-ia para a ala da concorrência, portanto:P é, valha-nos o cocktail de vibrações para temperar as nossas horas*

uuuuh, bengala dantiana, vindes do inferno, do pugatório ou do paraíso?:P
o miko vai lutando, à medida dos seus 17 anos (já se confirmou que são 17). está bastante melhor, mas precisa de alguns cuidados para recarregar as baterias.*

aveugle.papillon: isso -ele anda aí...
obrigada pelo atalho;)

07 setembro, 2007 20:25  
Blogger Gonçalo Veiga said...

O medo cheira mal da boca!

Espero que a fera esteja melhorzita ;)

09 setembro, 2007 02:50  
Blogger icendul said...

costumas ler almada nas tuas sessões?

está melhor, obrigada! a temperatura baixou e ele arrebitou logo;)

09 setembro, 2007 17:29  
Blogger Inês Ramos said...

Espero que o Miko esteja bem, agora!
A miga gata Maria Tété também foi operada esta semana e sei o que são essas visitas de terror ao veterinário.
Passei por aqui para agradecer a tua visita ao meu blogue.
Espreita também um blogue que eu e uma amiga minha temos, sobre... gatos!
Aqui:http://queridos-gatos.blogspot.com/
Beijinhos,
Inês

14 setembro, 2007 13:19  

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