quinta-feira, outubro 29, 2009
quarta-feira, outubro 28, 2009
domingo, outubro 25, 2009
geometria
sou tia elevada a quatro. aos fins de semana, o meu quarto assemelha-se a um estacionamento de meninos. os meus irmãos vêm visitar os meus, aliás, os nossos pais. as minhas sobrinhas mais pequenas, ainda dependentes de colo, quando por alguma razão estranham o ambiente e começam a chorar, são pacificáveis de formas diferentes. a precisão do ângulo com que as amparámos no colo, determina o sucesso do apaziguamento. a mais nova, uma bebé de quatro meses, pára de chorar, se, no colo, estiver voltada para a frente, numa oblíqua ao tronco de quem a embala, com a zona do coração encostada ao coração do adulto. a maior, já com sete meses, também prefere estar voltada para a frente, mas não aprecia inclinações; há que ampará-la como a um plano paralelo ao peito. ontem discutia a questão com a minha mãe, como quem descobre uma chave geométrica para alcançar um segredo sagrado. a pacificação de uma alma em prantos, neste caso. constatei que não me lembrava de muitas rimas infantis, nem de canções de embalar. so me vinham canções dos 80's à mente. ai, tia, tia... a mais pequenina gosta de eurythmics e boney m.
sábado, outubro 24, 2009
sexta-feira, outubro 23, 2009
o problema - no ocidente, sobretudo - é a fantasmagorização zombeteira do conceito espíritos e a não atribuição de propriedades naturais ao assunto. entendo que o desconhecido inspire temor, mas muitas vezes não é o desconhecimento absoluto que está em causa, é a vergonha ou o constrangimento social em assumir que se é receptivo à ideia de existência da coisa, tal como à ideia de oxigénio ou de amor.
quinta-feira, outubro 22, 2009
segunda-feira, outubro 19, 2009
saramago tem razões mas não tem razão
hoje, pela manhã, acordei com o timbre doce de tolentino de mendonça na rádio, falava sobre a Bíblia. entretanto, percebi que também Saramago tinha falado.
não venho exprimir nenhum melindre. em nada me chocam as declarações proferidas, dentro do quadro conceptual que é o seu. sinto-me apenas impelida a pôr em evidência a ausência de rigor das leituras do nobel. antes de mais, esclareço alguns aspectos, para me enquadrar em relação ao escritor. um livro como O Evangelho segundo Jesus Cristo é uma obra que considero, a todos os níveis, incrível. sou uma leitora que acredita em Deus sob uma forma transversal, cruzando o paradigma ocidental com o oriental, e que não concebe o cosmos sem a existência de um demiurgo, contudo nunca hei-de esquecer a leitura dessas páginas: pela incoporação de aspectos da esfera pagã, como a sexualidade, por exemplo, que são normalmente diabolizados (do meu ponto de vista, sem sentido), pelas reflexões que creio serem dúvidas legítimas do mais pio dos crentes e pela reinvenção histórica do epílogo, não por concordar com o modo como a questão é equacionada, mas por achar que, literariamente, é ímpar. creio, porém, e sublinho bem isto, que há uma constante confusão em que o autor labora: misturar acidente institucional, natural imperfeição humana e essência divina. são planos distintos. muito. muitíssimo. talvez entenda que para quem não tenha espontânea e intuitivamente fé, seja normal prevalecer a podridão mundana. isto dito com objectividade, sem acidez alguma. vejo-o claramente em bons amigos ateus que possuo. desta vez, a questão não tem que ver só com isso. no que a esta matéria diz respeito, folgo em que soem trombetas, para usar linguagem a propósito, sobre a desunião que as religiões semeiam entre os povos. nada de equívocos: se saramago acha mais benéfica uma destituição total, eu apenas me preocupo com a falta de ecumenismo, não defendo a abolição de nada, somente a construção de pontes possíveis entre margens histórica e culturalmente diferentes. outro aspecto, e aqui entendo, em certa medida, o detractor: o antigo testamento tem passagens de uma severidade atroz. é um facto. mas biblia, como nos esclarece a etimologia, é um conjunto de livros, não acaba, portanto, no antigo testamento. com ou sem fé, com ou sem sintonia total, será possível não reconhecer nos evangelhos, insertos no novo testamento, mensagens de amor, perdão, esperança, a ponto de todo o livro ser tido como um manual de maus costumes? e o Cântico dos Cânticos? já sei: a Bíblia é produto de decisões editoriais, votos e vetos em concílios, traduções e eventuais manipulações e, mais uma vez, devo dizer que não me choco com a não atribuição de um carácter sagrado e revelado às escrituras, embora até seja das almas que crêem numa base narrativa mínima que dá conta da existência de Jesus como um revolucionário no domínio da espiritualidade e creia que esse (como Buda, por exemplo) estaria num grau de evolução espiritual mais elevado, designado para transmitir ensinamentos ao mundo. não me choco, portanto. só não considero justo ou rigoroso o comentário do deus de blimunda, tendo em conta a vastidão da obra. recordo-me de o ouvir, há meses, na tv, a comentar o episódio do sacrifício de isaac: como é que algum Deus pode pedir a um pai que mate o seu filho? assim se queixava ele. ora, saramago refere-se apenas à primeira parte da narração. quem o estivesse a ouvir e não conhecesse a passagem, ficaria sem acesso ao desfecho, que é essencial: Deus não permite que a criança seja imolada e intervém antes que abraão sacrifique o próprio filho. penso que se constrói o exemplo da provação e do teste divino do herói, sempre hiperbolizado até ao último grau de forma a enaltecer ainda mais a sua devoção, para depois se finalizar em graça. terei eu vícios de simplificação hermenêutica a ponto de não ver mais que isto? era apenas um exemplo. vou tratar de ler o livro e tudo, mas que não houve rigor, lá isso...
domingo, outubro 18, 2009
sábado, outubro 17, 2009
sim, caros tresleitores
é evidente que o humor não pode ser uma disposição primeira. isso ofuscaria a inteligência e adormeceria a necessária atenção crítica. não se trata de um estado de espírito pateta. aliás, já por aqui partilhei, acredito que as catábases são essenciais para a espessura do nosso conceito de existência. mas se não há um impulso vitalista e regenerador que guinde para a anábase, então, a catábase passa a ser um modus vivendi por si só, não um estado de contraste que conduza à aprendizagem. judicativa com quem sempre se queira lá por baixo? não sou. de todo, não. mas se me pedem um ouvido, se partilham à espera de resposta, então, não sejam judicativos com a busca de luz, com a pelo-menos-tentativa. o humor é o processo digestivo. coitado do humor: não se riam dele.
sexta-feira, outubro 16, 2009
quinta-feira, outubro 15, 2009
quarta-feira, outubro 14, 2009
quinta-feira, outubro 08, 2009
será que à medida que a idade avança vou conseguir converter todas as questões em humor? isso é que era bom... - diz um ranhoso qualquer.
já me entristeceu. já me irritou. hoje, diverte-me imenso.
o quê?
o facto de a maior parte não tolerar paradigmas compósitos. seja lá qual for o nível; há muita coerência, ou uma incoerência que conduz a outra ordem de coerência, em focar a realidade com lentes diferentes. e isto, senhores, daria um belo tricot, se a ordem de trabalhos para esta manhã não fosse tão extensa.
cumprimentos independentes,
descaradamente desalinhados
sábado, outubro 03, 2009
continuação do andar de baixo
[é que me soa melhor o remate do post anterior. se agregasse este excerto ao texto anterior, não ficaria tanto ao meu gosto]
[é que me soa melhor o remate do post anterior. se agregasse este excerto ao texto anterior, não ficaria tanto ao meu gosto]
à medida que vou respirando por dentro dos anos, calcificam-se intuições sobre a natureza da alegria, das vantagens e da inevitabilidade de esta ser intermitente. mesmo assim, não sei se já cheguei sequer ao átrio da coisa. vou caminhando para lá, assumindo o risco de ter de refazer todas as concepções, se o avolumar de experiência e mais anos de respiração me devolverem ideias contrárias. mas se assim for, será apenas interessante. não grave.
há uma experiência absolutamente única no interior de uma provação: o atingir de um estado em que sem qualquer manobra visível, golpe redentor, ou grua salvífica se derrota o pesar e o medo e se é assaltado por uma segurança e alegria férreas e injustificadas a olho nu. interesso-me profundamente por transições neste sentido e por espíritos que as irradiem nas suas vidas, mas apercebo-me (ou ainda só conheço uma magra fatia de mundo) de que estas não são passíveis de serem descritas e partilhadas com a mesma acuidade e transferência de sentido com que se expõe um qualquer ciclo trágico, marcado por um revés, seja ele mais ou menos objectivo, ou uma narrativa de fatalidades e negrumes. pensando nestas regenerações, as que se traduzem por uma vitória íntima dentro de um cenário que, em certa medida, ainda permaneça desfavorável, chego a um patamar conceptual de experiência inefável. e o problema, na comunicação, é mesmo esse: é inefável. parece irónico, mas partilhar uma grande alegria pode tornar-se uma tarefa espinhosa.