domingo, fevereiro 28, 2010

sábado, fevereiro 27, 2010

deixo os poros abertos
e se transmutasse a violência das ondas de vento que me rebentam contra o peito? depois de acabar este pensamento, deixam de ser simples massas de ar, vão ser rajadas de amor em busca de uma infiltração corpórea.deixo os poros abertos.
pensava ela enquanto tentava subir a rua carlos malheiro dias, à hora da intempérie.

com os devidos ajustes, o cenário da névoa desra música, é-me sempre o Porto. que saudades desta voz. bom fim-de-semana a todos.

a mente mente. a mente mente. a mente mente. a mente mente.

domingo, fevereiro 21, 2010

o maior de todos eles é Kronos

daquelas fases em que se pensa em como aumentar o espaço entre os ponteiros do relógio.

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

amor plaquetas glóbulos

claro que é eterno. o amor ocupa no sangue a mesma certeza de lugar que a plaqueta e o glóbulo. pode ser que a rota do coração determine transferências do seu objecto, sendo possível segmentar ciclos de amor, mas o motor amador, como faculdade, é transversal, perene e indelével, mesmo que, conscientemente, não se queira projectar e expor. questionar isto é qualquer coisa parecida com teimar em negar a existência dos pulmões enquanto se fuma um cigarro ou se suspira.

segunda-feira, fevereiro 15, 2010

who by fire who by water »

domingo, fevereiro 14, 2010

nothing is gonna change my world

nothing is gonna change my world


não me lembro de ter lido uma finalização narrativa como esta. deixo este recorte para assinalar que é possível transformar um conteúdo naturalmente lúgubre numa conclusão, ainda que triste, luminosa, sem que daí resulta um final feliz balofo. Ich bin wortlos, Herr Hesse.

A quem hei-de ainda dirigir palavras de agradecimento, depois de durante as últimas horas ter recebido o amor e me ter despedido de todos os amigos e de todas as alegrias que se erguiam à beira do meu curto caminho? Durante a manhã pensei oferecer a mim mesmo o canto dos pássaros e os curiosos jogos do sol e das sombras no jardim, recordei aquelas noites que os amigos me concederam, quando estavam comigo e sacrificavam os seus hábitos enérgicos à minha fraqueza. Despedi-me dos meus melhores amigos entre quadros e obras poéticas. Mas ainda existe em mim afeição e gratidão por deuses desconhecidos; tenho ainda palavras de despedida na minha língua - para quem?

Quero oferecer-lhe a minha doença. Ela foi a minha professora. Não foi ela ainda mais afectuosa e constante do que todas as minhas alegrias e todos os meus amigos?

Aquelas horas de madrugada, em que eu jazia imóvel mas desperto, no escuro! As dores que me perturbavam o trabalho, para lutar contra mim mesmo e recordar-me de mim mesmo! Afasto-me de vocês com alegria, tal como uma criança com alegria deixa uma escola demasiado severa, mas penso sem amargura no vosso rigor. Vocês ensianaram-me a respeitar as horas boas, ensinaram-me a paciência e a modéstia e tornaram os meus poucos versos, pela vigília nocturna e ócio forçado durante o dia, mais maduros e reflectidos. Nunca como nas noites brncas da doença me esforcei com tal profundidade e seriedade para dar formas puras e bem proporcionadas às minhas fantasias. Tive de lutar para adquirir a minha arte, combatendo a dor e a exaustão. O trabalho era-me muito difícil, mas ainda assim não terei talvez nunca escrito uma palavra ociosa. Tinha pouco a manter e a oferecer, mas fi-lo com os sacrifícios e o amor de que o meu pobre coração é capaz.
Acima de tudo, no entanto, agradeço-te, minha doença, por me tornares tão fácil a partida. Não te separas de um coração amargurado, a tua escola não me ensinou a praguejar.


Hermann Hesse Contos Sublimes, pp. 28 e 29, Difel, 2006

sábado, fevereiro 13, 2010

a verdadeira deficiência mental é a de quem se recusa a expandir os recursos que possui.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

introdução de um bom fim-de-semana para todos. sendo possível, ainda cá volto antes de segunda para deixar aqui um recorte de Hesse que li há dias.

terça-feira, fevereiro 09, 2010

janela virada para o próprio

tenho sentido a beleza da repetição. creio que a causa é a espessura de tempo com que volto às coisas. a tentativa do olhar original e impoluto, tantas vezes glosada e procurada, é igualmente profunda, mas o olhar carregado de tempo tem a beleza da percepção dos mecanismos de desenvolvimento. com todas as novidades que possam advir das experiências que se sucedem, sejam elas confortáveis ou adversas, há recorrências que começam a ser mais legíveis. como se o próprio estivesse a uma janela de si próprio virada para o próprio, não apenas para uma percepção individual, mas também para uma observação de conjuntos. se chegar à velhice, é bem possível que me divirta ainda mais com isto.

domingo, fevereiro 07, 2010

ai, esta guitarra. ai, a voz da cachopa.

Do Tamanho das Coisas

Unn, a antiquíssima navegante,
dona de navios, terrenos, fiordes,
Unn, a excelsa, Unn, a generosa,
a que festejou as núpcias de seu filho
no dia do seu próprio passamento,
uma manhã, ao desembarcar na Islândia,
perdeu, no chão islandês, o seu pente.

As fábulas Fiama Hasse Pais Brandão, Quasi, 2002

quinta-feira, fevereiro 04, 2010

a mesma coisa que expor um salmão na montra do talho...
recordar é viver

não.
recordar é recordar.