terça-feira, abril 27, 2010

segunda-feira, abril 26, 2010

se ontem tivesse escrito a melancolia em que caí por causa daquilo, teria hoje a leitura clara do quão provisórios são alguns estados. podes pagar o café, tristeza, porque hoje de manhã, venci-te. se quiseres, troco-te dinheiro, para não deixares o empregado sem moedas.

quinta-feira, abril 22, 2010

sem título
um apetite profundo de ouvir uma história. de ouvir. fruir o macio acústico de uma boa locução, numa história que ressoe qualquer coisa de universal. que tudo isto se passe numa passividade muito atenta, de quem está para adormecer e descansa nessa ideia de, em minutos, cair no sono, sem que caia, contudo, porque não é possível que a narrativa deixe as almas indiferentes.
é preciso pentear o cabelo a essa ideia.
ai, é, é...

sábado, abril 17, 2010

à janela II

hoje de manhã tive de passar pela mesma rua. o homem estava a fechar a janela, recolhendo-se e recolhendo consigo o adorno humano daquele ângulo da casa. se o vir no passeio, de frente e corpo inteiro, vertical, não o identifico, decerto: não lhe conheço senão o tronco e o rosto, oblíquos ao parapeito. se ele soubesse a tela que o seu perfil inspira.

quarta-feira, abril 14, 2010

à janela
é habitual encontrar o homem à janela. há dias, o cabelo rapado e a camisa à riscas de banda larga lembraram-me, estranhamente, uma versão reinventada de um judeu do holocausto: normalmente sorri e debruça-se no parapeito com a descontracção de quem senhoreia um castelo sobre uma rua comercial. vejo-o sempre de perfil, enquanto subo a rua. nunca o vi bem de frente, por nunca ter olhado directamente no momento em que passo mesmo por baixo. o recorte do tronco a ultrapassar a linha da fachada da casa, assemelha-se a um adorno qualquer embutido na própria construção. um destes dias, devolvo-lhe o sorriso.

sexta-feira, abril 09, 2010

não imaginava vir a ter desejos tão pouco proverbiais: areia nos olhos, ainda não, mas areia nos ouvidos é até não poder mais. façam um empréstimo generoso de orelha e tempo a estes catraios, por favor. BOM fim-de-semana a todos.

quarta-feira, abril 07, 2010

tiques
o equívoco de medir sempre a profundidade da tristeza como maior do que a profundidade da alegria é um tique, é um tique, é um tique, é um tique, é um tique, é um tique, é um tique, é um tique. É UM TIQUE!

sábado, abril 03, 2010


visto o renoir em lista. quando tiver um pátio lajeado a preto, vou tentar imitar as pinturas no chão com farinha de arroz.
vairagya
o dia começou com um funeral. avô de uma amiga de sempre. a distância atávica desta partida em nada anula a percepção abstracta de uma despedida que se acende. pela urna em imersão, descem todos os adeus que nos habitam o peito. mas eu sei, eu sei: vairagya. amor também é vairagya. e nisto não há oxímoro algum.

quinta-feira, abril 01, 2010

vamos jantar fora, hoje é dia das mentiras.

a maior mentira é a de ser hoje o dia das mentiras. dia das mentiras é quando o homem quer. ou nem isso. talvez aqui não se adeqúe o chavão da benemerência. digamos antes que o dia das mentiras é quando o homem quer e/ou - atenção à minúcia da / - quando o homem não quer. e nem sequer é possível comercializar o conceito. não sei de onde me veio esta erupção resingona a umas horas do término de mais um primeiro de abril, mas tenho a impressão de que não me interessa. e agora vou mesmo jantar.
com vossa licença.