quinta-feira, dezembro 10, 2009

e a carochinha também
em circunstâncias de explicação demorada e, como tal, dispensável, passei dois dias únicos numa cozinha, como se tivesse embarcado num navio de carne, batata, farinha, ovos, cebolas e outros legumes, maionese, grelhas... a vibração de um chefe de cozinha genuíno inspira exactamente um estar a bordo; lembra um marinheiro: a respiração saudável, o porte resistente, a pele pigmentada pelos vapores condimentados da panela e pelo sol do forno. enquanto cortava pedacinhos de carne e os grelhava numa chapa barrada de azeite, segmentava interiormente algumas questões do meu íntimo, apercebendo-me de que a carne grelhava claramente mais rápido do que qualquer uma das pequenas ideias que me ocorria cozinhar, persistentes num grau de crueza original que se não deixa decompor e submeter a mutações facilmente. acredito que a carochinha também reflectisse sobre detalhes internos enquanto tratava da sua casa.