sábado, abril 04, 2009

brahms numa taça tibetana

em labuta com o ecrã em prol de causas laborais, acabei por acumular vivências, sem ter tempo de as segmentar por posts. brahms e tibete aparecem de mãos dadas como ecos dos últimos concertos a que pude assistir. ontem à noite, entrei pela primeira vez na igreja da trindade para ouvir um concerto. e aqui temos brahms. cafés e estacionamento de última hora impediram-me de chegar a tempo de arranjar lugar cativo, à frente, como gosto. até ao meu banco, a composição ressoava como uma onda sonora difusa, não se percebia sequer que era em alemão. mas a cabei por agradecer o meu atraso e a dispersão acústica, que trouxe um efeito de difusão, porque durante o espectáculo, sem qualquer âncora semântica, revi interiormente o conceito de uno primordial e a sua conexão com a música, sepultados nos apontamentos sobre nietzsche; num fechar de olhos para fruir bem a performance, regredi uns 11 anos até às aulas de filosofia.
ao senhor tenor: obrigada pelo convite! parabéns pelo fôlego!
saldando agora o débito de relatório do concerto de gongos e taças tibetanas. é impressionante o que recursos tão simples, que quase trazem uma herança tribal associada, conseguem accionar na nossa mente e no nosso corpo. a vibração das pequenas taças, abriu-me galerias novas na imaginação, a dos gongos, acordava medos, como que em parceria: o som cavo dos gongos chamava algo de inquietante à superfície que a vibração das taças vinha depois regenerar e apaziguar. erro crasso, típico do meu estado de vigilância e análise despudorado quando estou num contexto novo: mantive-me sempre de olhos abertos, não sosseguei a tentar perceber como comunicavam os dois tocadores, como se tocava nas taças e nos gongos (um deles, ao vibrar, animava o seu próprio reflexo, dando a ilusão de que uma espécie de X esticado rodava para um lado e para o outro) e, sem maior dose de entrega e desracionalização, creio que acabei por perder 3/4 do momento. para a próxima, olhos fechados. efeitos curiosos: uma ressonância macia no crânio durante o dia seguinte e uma boa disposição consistente, diferente de uma qualquer euforia sem chão; uma das pessoas que foi comigo, ficou com uma sensação de abdominais ginasticados e igualmente bem disposta. pela explicação na conversa final, percebi que as sete notas musicais têm uma correspondência de ressonância em pontos-chave do corpo, numa escala(da) que vai desde a base da coluna (dó) até ao cocuruto da cabeça (si). apercebo-me de que começa a surgir uma vaga de terapias baseadas em técnicas deste tipo. não é esse o intuito com que procuro uma experiência destas, mas devo testemunhar que há algo de expansor e desbloqueador de sentidos e do processamento mental ordinário que, após ter assistido ao concerto, não pude negar.
bom fim-de-semana a todos!

1 Comments:

Blogger João Henrique Alvim said...

imagino o teu ar sereno e derretido em mel sobre as ondas sonoras do gongo :)

bjs

12 abril, 2009 00:25  

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