terça-feira, janeiro 27, 2009

sob
o metro circula pelos intestinos da cidade e as carruagens estão cada vez mais densas: o ar abafado, a confusão de perfumes e, embora invisível, o nível vibratório, onde se cruzam as ondas de pensamento. ninguém fala e, no entanto, as presenças impregnam cada unidade da máquina como uma massa incorpórea indefinida. há quem se incomode com os olhares, com a multiplicidade de caras. não me angustia, isso. vou, aliás, muitas vezes a ler ou a procurar o mp3 que quero, de olhos mergulhados no leitor. mas a verdade é que não me consigo furtar à ebulição humana, mesmo que o código público do desconhecimento a silencie, inibindo os espíritos de comunicarem na qualidade de estranhos. ninguém verbaliza, mas o fluxo de ideias ocupa espaço dentro da carruagem e paira pelo tecto, mendiga, eventualmente lugar para sentar, espreita para o livro que levamos. ontem procurei imaginar-me à superfície, exactamente no mesmo ponto (ia em s.bento, quando me ocorreu o pensamento) e consegui transpor essa massa com a ideia de luz, mesmo a tão parda e enevoada que tem alumiado o porto nos últimos dias. as carruagens estão cada vez mais densas.*
* alguém há-de dizer que a questão central reside no sujeito, que o problema será antes um congestionamento interno do próprio percepcionador, não a densidade vibratória do espaço. claro que o sujeito não escapa a uma percentagem de responsabilização, mas as carraugens estão cada vez mais densas.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

não gosto desses olhares, chuto o meu para fora das janelas embaciadas ou leio o jornal sobre os joelhos :)

JHA*

28 janeiro, 2009 23:53  
Anonymous Anónimo said...

olá:)
sim, és dos que se incomodam:P
há dias, ao subir a constituição, mesmo a chegar ao marquês,de guarda-chuva, parecias-me tu a passar - como era provável que fosses, por aqueles lados - e ia dando um empurrão propositado a um desconhecido! travei a tempo!*

29 janeiro, 2009 20:08  

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