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há livros que me são indissociáveis de um qualquer itinerário de metro, por serem a leitura que reservo para as deslocações que tenha a fazer. costumam ficar mais dobrados e danificados do que os outros, por andarem sempre na carteira e apanharem humidade do guarda-chuva ensacado, migalhas de bolachas avulsas e toda a sorte de atritos que o abismo de qualquer carteira feminina pode proporcionar. crime e castigo, por exemplo, é um livro que não consigo dissociar das linhas amarela e verde do metropolitano de lisboa, dos tempos em que por lá vivi. acho que 90% do livro terá sido lido nas viagens subterrâneas, 9% no trajecto lisboa-porto-lisboa do intercidades, e 1% em casa(s). (e por falar em lisboa: S, recebe os meus parabéns e as minhas desculpas por estes 300km de distância no dia de hoje). chegava a sair mais longe do destino que tinha premeditado para acabar de ler momentos concretos ou, pelo contrário, a sair antes para me poder refazer respiratoriamente de momentos mais angustiantes, dando um compasso de ar livre a mim mesma, caminhando mais tempo a pé entre a boca do metro e o sítio onde queria ir. este beckett está a ficar conotado com o segmento entre d.joão II e o marquês ou a casa da música. o novelo de questões e perguntas que se emaranham nas páginas pede-me uma plataforma em movimento, nada de estatistismos. circulação. circulação. circulação. curiosamente, não há passagem que se aproprie da visão do douro, abaixo da ponte d. luís. esse ponto é sempre o pregnante: estimula e despoleta qualquer coisa, nunca é passivo ou sujeito à anexação por uma ideia prévia que a ele se tenha alojado.
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