segunda-feira, novembro 24, 2008

o guardanapo

ontem, à hora de jantar, reparei que estava um ponto vermelho a mexer-se no chão da cozinha. cansada, depois de um domingo em que tive de pôr trabalho em dia, duvidei da minha capacidade visual. mas era: uma joaninha. há muitos anos que não via um bichinho destes. fui, prontamente, salvá-la da curiosidade do gato, que não resistiria àquele ponto em movimento. a dita não saía de um dos quadrados da tijoleira. esticava-lhe o dedo, rodando-o em várias direcções, experimentando vários ângulos, esperando que ela subisse. nada. tive de pegar num guardanapo para simular uma superfície acima do chão onde ela passasse, para a poder apanhar. foi assim que consegui pegar-lhe e levá-la para o éden dos canteiros do pátio.
ao voltar, enquanto subia as escadas, a enregelar com o frio da noite, pensava nos dedos e nas mãos que nos vão apontando portas e caminhos e que desprezamos, contornamos ou nem chegamos a encarar como possíveis, sem sair da mesma quadratura contextual, como a joaninha no quadrado da tijoleira. chega a ser preciso que o chão abane e se renove a plataforma que pisamos, até que uma espécie de guardanapo nos envolva e mostre a saída. não deixem tudo para o macaco: ontem percebi que também nos assemelhamos à joaninha.