segunda-feira, novembro 10, 2008

o gato preto
ontem, um gato preto olhava para o mondego, num pequeno muro sobranceiro ao rio. o rabo em côncavo, como uma hélice pousada. desprovida de máquina, hoje escrevo o gato, escrevo o pêlo preto, brilhante, escrevo o sol e escrevo o mondego. escrevo-os para evocar o pormenor que não pude captar com nitrato de prata. ao lamentar não ter uma máquina, dou comigo a pensar no que se pode tornar a motivação da escrita. estamos sempre sem máquina quando toca a fotografar o caroço de uma experiência, de uma memória. mesmo que ela esteja no bolso ou na mochila. estamos sempre sem máquina. a escrita sempre pode costurar um vestido que se leia e para onde se pode olhar depois.