domingo, outubro 12, 2008


Vale Abraão Manoel de Oliveira (1993)
quem não fala e não ouve vê melhor, talvez veja tudo. o douro a rasgar o vale era um canal que fluía com a voz off. deve uma voz off atravessar o cinema sem mesura? estou a ler ou a ver um filme? tantos comentários. tantas considerações sobre o caroço das personagens, quando queria ser eu a fazer o trabalho de casa da descodificação do contexto. o processo assim seria sempre mais aberto e plural, sem a legenda timbrada a mário barroso. paradoxos que me distrairam durante a sessão: não queria, realmente, tanta voz off, mas queria, porque o coração do meu ouvido gostava de ouvir. creio que persiste no homem um fascínio original e primitivo - no sentido mais genuíno - pelo escutar de uma história. deixar entrar uma voz que dirige e sequencia o compasso na tela, a pensar que queria mais silêncio verbal. árvore flor fruto. mão cabelo vestido. olhar cigarro cachimbo. vidro tecto oratório. unidades a fazer o todo focalizador a empenumbrar (este verbo existe?) o resto da cena. eu sei que há melhores planos de Ema, mas este gato, para além de impertinente, é quase igual ao meu. não dissertarás sobre amor ao domingo, preceituava um sábio anónimo do Alasca. tenho de reler Platão: estou esquecida do mito do andrógino, preciso de relembrar esse passo ao pormenor, seria apenas com base no grego que Oliveira o introduziu ou foi mais além a fonte de consulta? mas não dissertarás sobre amor ao domingo. acho que vou respeitar o mandamento. o ponto final fica aqui -.

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Sempre gostei deste gato: é o meu retrato felino... (assim como do filme - escapa...:P)*

13 outubro, 2008 14:47  
Anonymous Anónimo said...

curioso: eu, que tanto gosto do manoel, tenho vários sentimentos paradoxais em relação a este filme. mas claro que não o reduzo à parca caridade do seu "escapa", cara voz:P

p.s. transmiti a mensagem ao meu velhinho e acho que ele discordou da analogia com terceiros. parecido com o bicho do filme, só mesmo ele...

13 outubro, 2008 17:20  
Anonymous Anónimo said...

N é parca"caridade"... gosto especialmente da cena dos carros esbarrarem qdo a jovem Emma está num socalco :P

P.S - É o meu retrato felino: até tem aquele ar de sobrolho e de estar "contra mundum"!*
(sobrolho franzido)

13 outubro, 2008 17:41  
Anonymous Anónimo said...

de facto,talvez conceda neste aspecto, então: padecem os três mau feitio - no meu gato com a devida atenuação da provecta idade:P

13 outubro, 2008 17:47  
Anonymous Anónimo said...

padecem os três de mau feitio crónico

13 outubro, 2008 17:48  
Anonymous Anónimo said...

Corrigenda:
Padecem os 4 - a incedul tb - demau feitio crónico

13 outubro, 2008 20:09  

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