quarta-feira, outubro 08, 2008

o assunto


- é melhor exorcizar, falar das questões ingratas até ao vómito. só assim virá o alívio.
- falar, naturalmente. com ouvidos seleccionados. não muitas vezes. a exaustão é xadrez para obssessivos.
- falar até reduzir ao rídiculo. falar para esvair o assunto de potência.
-não. saber reduzir a questão ao essencial, para depois a hierarquizar em importância, rodar a mente para outra frequência, manipular o pensamento como o botãozinho do rádio, para longe.
- é impossível...
- difícil, apenas.
- o pensamento assalta, sem bater à porta.
- é preciso rodar a mente, o coração, como o botão sintonizador do rádio. às vezes vejos tomadas em bocas que se abrem, em costas que se curvam em soçobro perante o incontornável; é assim que o pensamento vem e se crava no íntimo como uma ficha a entrar nos dois oríficos da corrente. e as bocas a falar e o assunto a ficar cada vez mais potente. e as costas a dobrar e o assunto a ganhar força eléctrica. não deixes a ficha entrar.
- algo tem de ser dito. o homem evolui pela partilha. consola-se pela confissão.
- naturalmente. falar do assunto. mas há mais íntimos dentro de um íntimo. não te deites debaixo da manta do assunto, não dês tanta electricidade ao assunto, não dobres as costas, à mercê da ficha do assunto, que vem a serpentear até se introduzir nos buraquinhos da tomada, em euforia de watts, por estares mais uma vez a falar do assunto. somos sempre um pouco maiores do que nos fazemos.
- ou o contrário.
- que vício...