sábado, outubro 18, 2008

Juventude em Marcha
Pedro Costa (2006)
Nha cretcheu, meu amor, o nosso encontro vai tornar a nossa vida mais bonita por mais trinta anos. Pela minha parte, volto mais novo e cheio de força. Eu gostava de te oferecer 100 000 cigarros, uma dúzia de vestidos daqueles mais modernos, um automóvel, uma casinha de lava que tu tanto querias, um ramalhete de flores de quatro tostões. Mas antes de todas as coisas bebe uma garrafa de vinho bom, e pensa em mim. Aqui o trabalho nunca pára. Agora somos mais de cem. Anteontem, no meu aniversário foi altura de um longo pensamento para ti. A carta que te levaram chegou bem? Nao tive resposta tua. Fico à espera. Todos os dias, todos os minutos, todos os dias aprendo umas palavras novas, bonitas, só para nós mesmo assim à nossa medida, como um pijama de seda fina. Não queres? Só te posso chegar uma carta por mês. Ainda sempre nada da tua mão. Fica para a próxima. Às vezes tenho medo de construir estas paredes, eu com a picareta e o cimento e tu, com o teu silêncio. Uma vala tão funda que te empurra para um longo esquecimento. Até dói cá dentro ver estas coisas más que não queria ver. O teu cabelo tão lindo cai-me das mãos como erva seca. Às vezes perco as forças e julgo que vou esquecer-me.


[queria escrever algo sobre as mãos, ou melhor, as unhas de Ventura, mas terei de deixar a operação para uma segunda audiovisão do filme]
pausa para comer um pão com marmelada e apanhar um pouco de ar fresco nos jardins de serralves, antes da sessão seguinte. há tanto tempo que procurava ver este filme:

Conversa Acabada
João Botelho (1981)

De início, para mim, Conversa Acabada deveria ser um quadro negro com a voz em «off». Mas com uma hora e quarenta assim, todos os espectadores sairiam da sala. A ideia era dar a máxima importância aos textos, mas aos textos no ecrã negro (...) Mas sei que se as pessoas não forem atraídas por alguma coisa, não ficam para ver o filme, neste caso para ouvi-lo.

João Botelho

não sendo eu grande conhecedora ou apreciadora de João César Monteiro, há uns anos atrás lembro-me de me ter sentido entusiasmada pela ideia de ouver o famigerado Branca de Neve. sei que outras questões, que não as da concepção original, terão motivado o negro dessa tela, mas não me interessa discuti-las aqui, importa-me o conceito final. hoje fiquei a saber que João Botelho já havia pensado, de raiz, no mesmo. já ele achou por bem destapar a câmara.