sexta-feira, março 21, 2008

dia mundial da poesia
o vento levou-me à esplanada de mesas verdes que fica debaixo das escadas que dão acesso à ponte. a beira do muro que contorna o rio acabava por picar as pernas, nem lia, nem escrevia. do outro lado da margem, os quadrados de relva, mais apartados, antes da confusão de bares do cais de gaia. onde me lembro de ter apanhado sol e lido parte da yourcenar ao negro, quando há uns anos o cais de gaia ainda não era cais de gaia. (porque é que me lembro sempre disso quando olha para lá, do lado do porto?) o jornal ainda voou em direcção às pernas dos espanhóis da mesa ao lado; recolhi-o de vez e decidi-me a responder a um desafio escrito a quatro, não duas - é só uma que escreve - mãos já com três anos de latência. caprichos de inspiração. mais o clássico temor do projecto conjunto. seja o que for. tudo isto foi uma introdução para o que se segue e se passou na mesa do lado esquerdo. um homem a bigode e casaco de fazenda, acompanhado de uma superbock, fita as manobras de uma pomba que tenta desentalar uma bolinha de pão de entre os intervalos do chão cimentado. cai-me a concentração ao chão, com o barulho do pássaro, vejo o homem a agachar-se, a pomba bem tenta extrair a sua presa de cereal, mas não tem sucesso. vai apanhá-la, vai apanhá-la, pensava eu, lembrando-me do que fazia o meu primo na praça de caminha, entre os pastéis e os gelados de verão. a pomba esvoaçou para fora de cena. o homem continuou agachado. aproximou-se do pedaço de pão. e comeu-o. ainda lhe pude ver o perfil a mastigar quando voltou para a mesa.

2 Comments:

Blogger lupuscanissignatus said...

Perante tamanho miolo idiossincrático, porque não alterar chavões...

Que tal Dia Mundial da
Pão-e-s-ia?!

25 março, 2008 13:49  
Blogger icendul said...

:)

26 março, 2008 19:36  

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