escrever o corpo
enquanto lia a narrativa os amantes, de jorge de sena, pensava, em vez repetida, como é difícil deitar corpos na página para os tocar, despir e fundir. progredia linha abaixo no texto, apreciava o eco predominantemente cerebral, donde vem um nó inteligente, mas não necessariamente erótico, ou com matizes de erotismo. isto não é depreciar o texto, é apenas dizer que há matizes aflorados ou tentados que não estão absolutamente lá. em termos gerais, e não só neste texto, o equilíbrio entre o pulsional animal e a subtileza do frémito no íntimo é difícil de interseccionar. por vezes, parece haver uma opção por apenas um dos níveis. há qualquer coisa que se trunca. para o amor vestido há o famigerado rídiculo de que todos enfermamos e onde nos acabamos por rever. e o amor pelo corpo, como se escreve?
8 Comments:
''Animula vagula, blandula,
Hospes comesque corporis,
Quae nunc abibis in loca
Pallidula, rigida, nudula,
Nec, ut soles, dabis iocos...
P. AElius Hadrianus, Imp.''
in Memórias de Adriano
talvez só na pele se escreva
boca
sputnik: é curioso vires com a yourcenar, tenho pensado em dedicar-lhe a atenção que interrompi desde a "obra ao negro", lida já há uns anos. outra curiosidade, especialmente para ti:esse livro está ao lado do meu langford para foto-nabice!obrigada pelo latinório (estou enferrujada)*
un dress: esse comentário dava um bom post;)
reza assim a versão portuguesa:
''Pobre almita tão meiguita
Deste corpo sociazita
Que para uns duros lugarzitos,
Escuritos, desertitos,
Sozinha ao presente vás
Ai nunca mais brincarás...''
Olha que o Langford até é avançadito... por falar nisso, tenho aqui um belo retrato de uma menina bonita de caracóis loiros com ar de: ''acaba lá com isso que eu quero é comer... chatinha...'' segue mais tarde. biju!
in-Corporizando a sua (nossa) fragilidade?!
sputnITA:
ia fazer o tpc,mas afinal já não é preciso. obrigadita:P e qto à foto, será bem-vindita à caixa gmailita. cuidadito com os meus (e de todas a vítimas presentes no jantar) direitos de imagem.
beijitos*
lupus: fragilidade e força, numa combinação justa.difícil de deitar na página.
Digamos que será identicamente difícil pôr em palavras coisas aparentemente tão anódinas como descascar uma maçã, fruir uma melodia, desejar o súbito aniquilamento de alguém ou hesitar entre duas cores de roupa. Depende da atenção com que leiamos tais assuntos. Seja: a apregoada dificuldade em escrever o sexo é, afinal, sintoma do nosso problemático relacionamento com ele.
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