terça-feira, julho 10, 2007

já há uns meses inverneiros atrás falei do apreço crescente pelo meu cachecol, porque ocultava risos autistas em praça pública, que não abonariam a favor de uma menina passante. os risos mantêm-se, longe de tirarem férias, arreigam-se com literal e etimológica radicalidade. de pescoço ao léu, resta-me a encenação de tosses repentinas ou de buscas à mochila, que justifiquem um baixar de cabeça. tenho ousado mais a partilha, com espécies que me parecem andar perto de algumas percepções. e sinto a realidade a dilatar. pode ser um risco partilhar certas vozes, mas a boa colheita de ressonâncias tem-me feito concluir que faltam cumplicidades, porque fluem medos infundados - mas talvez por isso poderosos - por dentro das nossas veias. perde-se sempre. e andam muitos com vontade de expirar no bolso.

2 Comments:

Blogger E. A. said...

A vida o que é senão risível?
Ri, deixa-te (r)ir.
O medo não é infundado; ele existe porque nos garante segurança. Progenitor da empatia.

A sensação de invadir de riso e palavras espontâneas a praça pública sinto-a semelhante a quando se está em cima do palco. O que quer que digamos ganha uma força inaudita, porque invasiva e impertinente à realidade. E se conseguires ganhar a expectativa do espectador (ou da praça pública) tens a sensação real que ganhas poder. Que, o que quer que dissesses a seguir e a seguir seria aceite inquestionavelmente. Não porque a pessoa acreditasse no que estás a dizer, mas porque parece que as pessoas têm uma reverência estranha pela "loucura" no sentido precisamente do que é alheio ao previsível.

É uma perspectiva diferente da "cumplicidade entre espécies" que falas, mas é um exercício interessante.
Fica a deixa para os leitores...

10 julho, 2007 15:08  
Blogger icendul said...

obrigada pela partilha de cena, voz tirésica:)

11 julho, 2007 10:37  

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