quarta-feira, junho 27, 2007

ginásio
é espontânea, sendo ou não inconveninte, a memória de uma situação, das cores que a matizaram, dos odores que a impregnaram, das palavras que se disseram, dos espaços que deram palco a um qualquer momento. mas relembrar as sensações do momento, conseguir evocar o sabor espiritual de um contexto é difícil. atravessar 10 anos, por exemplo, para resgatar uma situação de alegria para o presente pensado, em que se está a respirar, tentando que o espírito vibre na mesma frequência da altura evocada, poderia ajudar a inverter uma frequência mais lúgubre. um romântico que lesse isto desataria a poemar, alegando que isso ainda seria pior, porque por comparação a ciclos de euforia, um presente menos bom teria um travo ainda mais amargo, seria ainda mais notório o contraste.
estou cansada de românticos, ou de certo tipo de romantismos, pelo menos.
estou a treinar captura de sensações e vou continuar a ir ao ginásio.

12 Comments:

Blogger E. A. said...

:)

Um verdadeiro romântico olha para a fase eufórica como algo irresgatável, por isso é romântico
ou décadent...
Tudo tem atmosfera de coisa perdida.

De qualquer maneira, acho difícil não nos deixarmos contaminar aqui e ali por um certo romantismo. É tão atraente a ideia de cantarmos a nossa própria elegia.

27 junho, 2007 12:06  
Blogger icendul said...

sem dúvida, aveugle.papillon, mas a atracção pela lápide do umbigo petrifica-nos por inteiro, e ser estátua fúnebre cansa de inutilidade e inanidade.

27 junho, 2007 12:16  
Blogger E. A. said...

"Mais vale querer o nada, a não querer nada."

Compreendo-te perfeitamente. Mas repito que é difícil não resvalarmos, até por formas mascaradas, nessa adoração ao vazio.

Exercitemos, então!
É a mensagem, não é?

27 junho, 2007 12:27  
Blogger icendul said...

vértice avulso levanta-se do chão onde fazia abdominais, enxuga umas gotículas a sair dos poros e sorri:)

27 junho, 2007 12:31  
Anonymous Anónimo said...

'Bora para o ginásio!
(Se bem que o Romqntismo...bom, concordo coma primeira citação da sra aveugle.papillon.)*

27 junho, 2007 12:45  
Blogger icendul said...

não neguei o romantismo em absoluto, refiro-me a particularidades do paradigma. o termo romântico é, aliás, normalemnete equívoco, daí tê-lo escrito em itálico.o cerne do texto é a minha (subjectiva, e que respeita a dos outros)oposição ao investimento feito e refeito, até se tornar rarefeito, no negrume, de poros cerrados ao investimento na luz.*

27 junho, 2007 12:59  
Anonymous Anónimo said...

na última madrugada pensava nas palavras e contornos que fizeram o encontro de sábado, e hoje ao ler-te sorri; mais uma pequenina prova de que não há coincidências.
*
Espectro

27 junho, 2007 13:14  
Blogger icendul said...

desde sábado que ando a falar do mesmo,então. tenho de vigiar esta obsessão!*

27 junho, 2007 13:30  
Anonymous Anónimo said...

«Nenhuma maior dor / do que a de recordar tempo feliz/ já na miséria»;
ou «Ali lembranças contentes / na alma se representaram / e minhas cousas ausentes / se fizeram tão presentes / como se nunca passaram // Ali, depois de acordado, /co rosto banhado em àgua / deste sonho imaginado / vi que todo o bem passado / não é gosto mas é mágoa.»

Não concordo nada com isto, mas a ideia tem uma tradição tão forte que forçosamente corresponderá a algum sentimento geral da humanidade.

27 junho, 2007 13:56  
Blogger patricia said...

E quando passados dez anos ainda há coisas que nos deixam a pensar? E quando descobrimos que a fonte de alguns problemas vem de há dez anos atrás?

A captura de sensações presentes é mais eficaz: vivê-las agora e daqui a dez anos talvez ainda saibam bem!

***

27 junho, 2007 20:47  
Blogger icendul said...

F: sim.ao pensar num ginásio, já parto do princípio que, de facto, há uma luta, um exercício de contrariar pessimismos arreigados. todos nos debatemos com isso. a questão é o investimento que é dado por acréscimo, ou por atitude constante - diferente dos gritos contextuais que qualquer ser humano necessita de dar ao longo da sua existência, naturalmente.*

patrícia: não me referia a apegos passados - e dez anos foi só um exemplo, para marcar uma distância. o treino relaciona-se com a essência espiritual dos momentos, depurada da situação concretamente vivida; tudo isto não como filosofia de vida constante, mas como contraponto a nós de sofrimento: um tipo de sinal e de vibração eufórica evocado vem aplacar outro, não dispensando a busca no presente das sensações ao dispor, evidentemente.
:)

28 junho, 2007 10:05  
Blogger un dress said...

sim!! prá frente com o ginásio...fonte de captura de sensações e, nalguns casos, de captação por excelência dos mais subtis rapports alma-corpo!! :)

que sim!

28 junho, 2007 21:19  

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